EQUIPA DA ADF
Depois de dois anos de confinamentos obrigatórios, distanciamento social, uso de máscara, sistemas de saúde sobrecarregados e mais de 251.000 mortes relacionadas com o coronavírus em África, especialistas em matéria de saúde estão a avaliar a resposta do continente à pandemia.
Quando o surto começou, as respostas nacionais eram razoavelmente semelhantes. A maior parte dos países instituíram confinamentos obrigatórios e apelaram à população para lavar as mãos com frequência e praticar o distanciamento social. Mas depois de alguns meses, os países começaram a lidar com a pandemia de forma diferente, Catherine Kyobutungi, directora-executiva do Centro de Pesquisas da População Africana e Saúde do Quénia, disse ao The Conversation Africa.
“Existem países como Uganda e Ruanda que tiveram uma abordagem mais inclinada para a saúde pública, centrando-se na tentativa de acabar com as infecções a todo o custo,” disse Kyobutungi. “E aqueles, como Quénia, que seguiram uma abordagem mais económica, centrando-se em minimizar os efeitos dos confinamentos obrigatórios. Claro que a Tanzânia esteve por sua própria conta quando paralisou com todas as medidas de saúde pública que tinham sido recomendadas na altura.”
O falecido Presidente da Tanzânia, John Magufuli, foi um céptico da COVID-19, que apelou que a população orasse para que a doença desaparecesse. A Presidente Samia Suluhu Hassan, que assumiu o cargo depois da morte de Magufuli, mudou a resposta daquele país quase que imediatamente, reunindo uma força-tarefa para combater a pandemia, ordenando a montagem de instalações de produção de oxigénio nos seus maiores hospitais e tomando medidas para combater a desinformação.
Kyobutungi disse que a desinformação sobre a doença prevaleceu em muitos países, porque as mensagens sobre a saúde pública eram inadequadas.
“Também não conseguiram comunicar adequadamente informação simples como onde as pessoas podiam fazer um teste, ser vacinadas e comunicar sobre efeitos colaterais da vacina,” disse Kyobutungi ao The Conversation Africa. “Isso apenas demonstra quanto mais precisamos de fazer como comunidade de profissionais de saúde pública para comunicar de forma eficaz agora e no futuro.”
Embora alguns países tenham instituído testes de COVID-19 nas suas fronteiras, outros não o fizeram. Kyobutungi argumentou que uma abordagem regional para a pandemia teria sido mais adequada.
Quando a pandemia começou, houve poucos dados para informar as decisões médicas e de saúde pública, mas quanto mais a COVID-19 se propagava, mais dados se tornavam disponíveis, facilitando a tomada de decisões.
“Penso que ainda há espaço para melhorias quando se trata de avaliar as medidas de saúde pública de forma crítica e os seus benefícios em tempo real,” Michelle Groome, Directora da Divisão de Vigilância e Resposta de Saúde Pública do Instituto Nacional de Doenças Contagiosas da África do Sul, disse ao The Conversation Africa. “Algumas medidas introduzidas no início da pandemia, por exemplo, a medição da temperatura, não demonstraram ser eficazes na detecção de infecções, mas mesmo assim estão a ser utilizadas como parte da resposta.”
Groome acrescentou que a COVID-19 destacou os benefícios de partilha de dados a nível global, como quando a África do Sul forneceu informação sobre a variante Ómicron logo depois que esta emergiu.
“Os nossos cientistas foram capazes de colaborarem activamente com a [Organização Mundial de Saúde], instituições de saúde pública em muitos países assim como canais de média internacionais, que possibilitaram que os dados fossem partilhados de forma rápida e deram assistência com a resposta à Ómicron em outros países,” disse Groome.
Especialistas afirmam que a pandemia ainda está longe de terminar, uma vez que se espera que uma quinta vaga de infecções pela COVID-19 venha a assolar a África do Sul tão cedo quanto Abril.
John Nkengasong, que lidera o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, está ansioso por um tempo em que os países africanos não terão de depender de outros países para obterem medicamento, suprimentos e equipamentos médicos. Nkengasong e outros especialistas em matéria de saúde acreditam que a experiência de África em lidar com anteriores surtos de doença, tais como o Ébola, ajudaram os sistemas de saúde a lidarem com a COVID-19. Mas existe mais trabalho por ser feito, disse.
“Um caminho fundamental para a segurança global colectiva é uma África que seja auto-suficiente,” disse Nkengasong ao The Guardian.