Moçambique Vira as Atenções para a População de Cabo Delgado
EQUIPA DA ADF
Especialistas há muito insistiram que os sucessos das operações de combate aos insurgentes de Moçambique, na província nortenha de Cabo Delgado, dependem da melhoria não apenas da segurança, mas do seu panorama económico e das relações comunitárias.
Planos multissectoriais estão a ser preparados para fazer exactamente isso.
No mais recente comunicado sobre o estado da nação, o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, falou de forma optimista ao parlamento sobre os esforços de combate aos insurgentes a nível regional que estão a decorrer, afirmando que o número de ataques tinha reduzido substancialmente.
“As operações conjuntas das forças armadas de Moçambique, da SADC [Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral] e do Ruanda registaram um progresso notável com impacto imediato na neutralização da capacidade combativa dos terroristas,” disse no dia 16 de Dezembro de 2021.
Apesar de uma sensação oscilante de estabilidade ter retomado em algumas cidades e estradas onde as forças conjuntas são mais visíveis, a sua presença não resultou em menos violência.
Pelo contrário, o número de ataques organizados pelo grupo extremista Ansar al-Sunna aumentou entre Janeiro e Fevereiro e deixou deslocadas mais de 12.000 pessoas, de acordo com um relatório das Nações Unidas para a Coordenação da Ajuda Humanitária em Cabo Delgado.
Os especialistas afirmam que a insurgência, agora afiliada ao grupo do Estado Islâmico, está enraizada em Cabo Delgado porque eles utilizam o medo e a coerção para ganhar apoio de alguns na população. Jovens insatisfeitos, por exemplo, muitas vezes, são radicalizados e recrutados porque os extremistas apelam para a sua falta de emprego, escolas e esperança.
Nyusi não acredita que exista uma ligação entre os ataques terroristas e as insatisfações locais.
“Para nós, não existe uma narrativa racional por detrás das acções terroristas,” disse ele no parlamento. “O que estamos a enfrentar é um puro banditismo motivado pela ambição de outros contra um país que está prestes a dar um salto qualitativo e quantitativo.”
Mesmo assim, a maioria acredita que o investimento na região é essencial para derrotar a insurgência que fez mais de 3.500 vítimas mortais e obrigou mais de 740.000 pessoas a fugirem das suas casas.
A pressão das Nações Unidas, de grupos humanitários e de organizações não-governamentais ajudou o governo de Nyusi a abordar as fraquezas económicas em troca de centenas de milhares de dólares em ajuda estrangeira para a região.
Os doadores ajudaram o governo a escrever um plano de reconstrução formal, chamado Estratégia de Resiliência e Desenvolvimento Integrado do Norte. O mesmo pretende desembolsar o financiamento em três fases ao longo de cinco anos.
O Instituto de Estudos de Segurança (ISS Africa), um grupo de reflexão sul-africano, comunicou no ano passado sobre um pacote de financiamento de 764 milhões de dólares de parceiros multilaterais para criar a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN).
“A ADIN possui quatro pilares principais — ajuda humanitária, desenvolvimento económico, resiliência da comunidade e comunicação,” escreveu ISS África.
“O sistema de educação deve ser revigorado para formar e preparar os locais com habilidades que se enquadrem nas novas oportunidades de emprego. As autoridades de Cabo Delgado também precisariam de investir em programas de obras públicas para complementar a criação de empregos no sector formal e informal e oferecer actividades sociais como desporto para envolver os jovens.”
A ADIN também reservou 25 milhões de dólares para transferências de dinheiro ou concessões sociais a fim de apoiar as famílias de Cabo Delgado e províncias vizinhas de Nampula e Niassa.
Enquanto as populações deslocadas regressam, elas vêm provas de ajuda humanitária e programas de estabilização. Soldados das forças conjuntas participam nos esforços de limpeza, enquanto se oferece emprego aos civis para construírem casas e instalar infra-estruturas básicas.
A ajuda chega aos poucos, mas o governo e os doadores internacionais insistem que está a vir.
“Com as recentes áreas reconquistadas, descobrimos que existem muitas pessoas que querem regressar às suas zonas de origem,” director nacional do Banco Mundial para Moçambique, Idah Pswarayi-Riddihough disse à imprensa, em Outubro de 2021. “Mas eles não podem regressar sem as condições básicas disponíveis.”
O empresário Assif Osman ao participar de um webinar da ADIN, no dia 24 de Fevereiro, em Pemba, disse que está satisfeito com a corrente de sucessos alcançados pelas forças conjuntas. Mas existe mais no que diz respeito à insurgência do que apenas a luta.
“É importante que as pessoas compreendam que resolver este conflito não é apenas uma questão de intervenção militar,” disse. “Temos de estar cientes de que este sucesso irá sempre ser temporário a menos que seja acompanhado de um conjunto de medidas estruturais e económicas para vencer o problema da pobreza na província.”
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