EQUIPA DA ADF
No primeiro ano da pandemia da COVID-19, muitos questionaram por que razão África parecia estar a ser poupada do nível de devastação sofrido pelos outros continentes.
Durante meses, a Organização Mundial de Saúde (OMS) descreveu África como sendo “uma das regiões menos afectadas do mundo” nas suas actualizações semanais.
Uma teoria popular entre os investigadores e as autoridades de saúde pública foi que o número de infecções e de morte por COVID-19 de África estava a ser subdeclarado.
Novas evidências indicam que eles estavam certos.
O número de casos de COVID-19 de África pode ser até sete vezes superior ao demonstrado pelos dados registados, e o número de mortes pode ser duas a três vezes superior, disse recentemente a director regional da OMS para África.
“Estamos bem cientes de que os nossos problemas de sistemas de vigilância que tivemos no continente, com acesso a fornecimentos de testes, por exemplo, causaram uma subestimação de casos,” Dra. Matshidiso Moeti disse numa conferência de imprensa virtual, no dia 10 de Fevereiro.
Não é a primeira vez que um estudo de dados sobre a COVID-19 de África resultou em estimativas elevadas.
Desde Março de 2020, África registou mais de 11 milhões de casos e aproximadamente 250.000 mortes.
No dia 14 de Outubro de 2021, Moeti disse que um estudo feito pelo seu gabinete estimou que o programa de testes identificou 14% de casos positivos, o que significou que seis em cada sete infecções não eram detectadas.
Moeti baseou as suas mais recentes declarações num estudo divulgado no dia 15 de Fevereiro que foi realizado por uma equipa de cientistas com o apoio da OMS. Eles analisaram as pesquisas de seroprevalência disponíveis no continente, que utilizam exames de sangue para demonstrar a percentagem da população que possui anticorpos para a COVID-19. Isso demonstrou elevados números de exposição à doença, acima do que se pensava antes.
Outros estudos feitos em todo o mundo calcularam as mortes em excesso durante a pandemia para determinar quantas podiam ser atribuídas à COVID-19. Apenas três países de África, contudo, colhem dados necessários para estimar as mortes em excesso.
Os testes no continente foram um problema desde o começo da pandemia, e os especialistas acreditam que a maioria das mortes pela COVID-19 ocorrem em casa.
Mais de 98 milhões de testes foram administrados no continente, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
As testagens melhoraram gradualmente: 21 países agora seguem a referência recomendada pela OMS de 10 testes por cada 10.000 pessoas por semana.
Há um ano, apenas 15 países africanos satisfaziam esse padrão.
“Não devemos esquecer que os testes e a vigilância que agora são as ferramentas básicas para que as nossas vidas retomem a uma certa semelhança de normalidade,” disse Moeti no dia 10 de Fevereiro, observando que a propagação da doença em África, muitas vezes, é impulsionada por pessoas assintomáticas.
Isto, disse ela, necessita de um aumento nos testes baseados na comunidade e nas respostas de prestação de cuidados de saúde.
A OMS está a liderar uma iniciativa e 15 países africanos que realiza testes rápidos a base de antigénios em unidade móveis, cujo uso está a aumentar.
O Consórcio dos Diagnósticos para a COVID-19 recentemente garantiu pelo menos 50 milhões de testes rápidos para distribuição em África. De acordo com dados do Zimbabwe, onde se indicou que as estatísticas sobre a testagem foram registadas de forma consistente, o uso de testes rápidos aumentou em 88% entre Abril e Dezembro de 2021 e superou o uso de testes PCR.