EQUIPA DA ADF
Depois de dois anos de COVID-19, a gravidade da doença é substancialmente mais baixa em crianças e adolescentes, comparados aos adultos, indicam estudos científicos.
Em África este não é o caso.
Um novo estudo feito em vários países de África concluiu que jovens internados com COVID-19 possuem uma possibilidade significativamente maior de contraírem doenças de longo prazo ou morte do que os de outras partes do mundo.
“Este estudo fornece informações importantes sobre a COVID-19 entre crianças africanas. Trata-se de informações que não estavam anteriormente disponíveis nesta dimensão,” a co-autora Dra. Nadia Sam-Agudu disse num comunicado. “Agora temos provas de vários países para demonstrar que as crianças africanas também experimentam COVID-19 severa, elas experimentam a síndrome inflamatória multissistémica, algumas requerem cuidados intensivos, outras também morrem e em taxas muito mais elevadas do que fora de África.”
A pesquisa, uma colaboração multidisciplinar de pessoal de saúde do Fórum Africano para a Investigação e Formação em Saúde (AFREhealth), foi realizada em 469 crianças e adolescentes internados com COVID-19 em seis países da África Subsaariana, entre os meses de Março e Dezembro de 2020.
O estudo demonstrou uma taxa de mortalidade global de 8,3% comparada com 1% ou menos registados na Europa e América do Norte.
Crianças africanas com menos de um ano de idade com doenças não contagiosas preexistentes também tinham mais probabilidade do que outras crianças de precisarem de cuidados intensivos ou de morrerem.
Os investigadores do Instituto de Virologia Humana da Nigéria, em Abuja, e da Universidade de Ahmadu Bello, em Zaria, também na Nigéria, publicaram os seus relatórios na Revista da Associação Médica Americana, no dia 19 de Janeiro.
“As conclusões do estudo do AFREhealth mostram que a COVID-19 afecta crianças e pode causar consequências graves,” Dr. Ifedayo Adetifa, director-geral do Centro de Controlo de Doenças da Nigéria, disse num comunicado. “Precisamos seriamente de factorizar crianças em vigilância e produção de relatórios da doença de COVID-19 desagregada por idade.
“Para além disso, a elevada taxa de mortalidade registada nos hospitais indica uma necessidade de investimentos em cuidados intensivos para crianças em África.”
O estudo do AFREhealth recolheu dados de jovens com idades compreendidas entre 3 meses e 19 anos de idade em 25 centros de saúde de Nigéria, Gana, República Democrática do Congo, Quénia, África do Sul e Uganda.
Dezoito crianças tinham a síndrome inflamatória multissistémica confirmada ou suspeita, uma complicação grave de COVID-19 em que partes do corpo ficam inchadas e causam dor. Quatro participantes morreram.
Dos mais de 315 milhões de casos e 5,5 milhões de mortes registadas devido à COVID-19 até inícios de 2022, mais de 29 milhões de casos e 22.000 mortes foram estimadas entre crianças e adolescentes com idades entre 0 e 19 anos, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).
O autor principal do estudo, Dr. Jean Nachega, um epidemiologista da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, disse que os números crescentes de casos no continente são motivo de grande preocupação.
“Embora o nosso estudo tenha analisado dados do período inicial da pandemia, a situação não mudou muito para as crianças de África,” Nachega disse ao jornal nigeriano, Premium Times. “Na verdade, espera-se que piore com o surgimento a nível global da altamente contagiosa variante Ómicron.”
Nachega disse que o estudo destaca um grande problema em África — que os cuidados intensivos pediátricos não são facilmente acessíveis.
Adetifa concordou, dizendo que o estudo enfatiza a necessidade de pesquisa para incentivar as grandes mudanças nas prioridades da prestação de cuidados de saúde.
“Precisamos de mais destes estudos rigorosos de múltiplos centros para que haja produção de políticas informadas e baseadas em evidências na Nigéria e em outros países africanos,” disse ele.