EQUIPA DA ADF
Especialistas africanos predizem que a fase extrema da pandemia da COVID-19 pode chegar ao fim em 2022, mas a doença continuará por muito mais tempo.
Evidências indicam que a variante Ómicron, a estirpe mais contagiosa da doença até então, geralmente causa sintomas ligeiros e baixas taxas de internamentos e mortes.
Isso faz com que os cientistas ponderem se a Ómicron possa estar a sinalizar o começo do fim da pandemia.
“Eu estou muito optimista no sentido de que já alcançamos um ponto de viragem nesta pandemia,” investigador sul-africano, Dr. Shabir Mahdi, disse à rede televisiva, CBS.
Na África do Sul, onde a variante Ómicron foi primeiramente registada em finais de Novembro, novos casos diários atingiram o pico em meados de Dezembro e rapidamente registaram um declínio, alimentando esperanças de que a variante Ómicron possa ser de curta duração.
Eventualmente, afirmam os especialistas, a COVID-19 irá tornar-se endémica. Isso significa que continua a circular numa dada população, mas num padrão previsível, muitas vezes periódico, e com menos vagas de infecção.
Geralmente, os vírus ficam menos severos com o passar do tempo, e a COVID-19 pode passar a ser apenas mais uma doença com a qual os países devem lidar regularmente como a malária ou a tuberculose. As autoridades de saúde pública, contudo, alertaram que é muito pouco provável que a COVID-19 seja eliminada e dizem que continuará a matar pessoas durante muitos anos, embora em níveis muito mais baixos.
O Dr. Michael Ryan, director de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), alertou recentemente que pode ser que “nunca acabemos com o vírus.”
“A malária endémica mata centenas de milhares de pessoas, HIV endémico, violência endémica nas nossas cidades do interior,” disse durante um painel de debate no dia 18 de Janeiro, organizado e difundido pelo Fórum Económico Mundial.
“Endémico em si próprio não significa bom. Endémico apenas significa que está aqui para sempre.”
Com 37 mutações na proteína spike que utiliza para apegar-se e invadir as células, a variante Ómicron é pelo menos duas vezes mais transmissível que a variante Delta. Está rapidamente a tornar-se a estirpe dominante da COVID-19 em África.
Os investigadores do Instituto de Pesquisas em Saúde de África, na África do Sul, recentemente divulgaram um estudo que mostrou como a Ómicron neutraliza e substitui as anteriores variantes, enquanto os pacientes que a contraem eram muito menos propensos a ficar infectados ou reinfectados com a Delta.
“Se a variante Ómicron demonstrar ser menos patogénica, isso pode significar que o curso da pandemia mudou,” o investigador principal do estudo, Professor Alex Sigal, disse num comunicado. “A Ómicron irá assumir o controlo, pelo menos por agora, e poderemos ter menos perturbações das nossas vidas.”
Outros estudos feitos na África do Sul e no Reino Unido concluíram que os pacientes da Ómicron são 50% a 80% menos propensos a ficarem internados — um grande alívio para um sistema de prestação de cuidados sanitários que estava sobrecarregado em 2021.
Mahdi, que trabalha na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, disse que a variante Ómicron representa menos de 5% de todas as mortes pela COVID-19 na África do Sul desde o começo da pandemia.
“Não imagino uma situação em que revisitemos aquilo que experimentámos no decorrer das primeiras três vagas na África do Sul,” disse.
Os números oferecem muitas razões para esperança, mas enquanto a COVID-19 faz uma transição para um estado endémico, especialistas alertam que as mutações contínuas tornam impossível prever o futuro.
“Embora a aceleração, o pico e o declínio desta vaga tenham sido incomparáveis, o seu impacto foi moderado, e África está a emergir com menos mortes e menos internamentos,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África, disse durante a conferência de imprensa do dia 20 de Janeiro.
“Mas o continente ainda tem que reverter o quadro desta pandemia. Enquanto o vírus continuar a circular, mais vagas da pandemia são inevitáveis.”