É impossível dizer quantas vidas podem ter sido poupadas quando cinco pessoas ligadas a uma agência do Copo de Guardas Revolucionários Islâmicos do Irão (IRGC) foram presas no ano passado em Gana, Senegal e Tanzânia.
Os cinco tinham sido recrutados pela Força Quds, um braço do IRGC, que possui uma presença crescente no continente. As pessoas eram suspeitas de planificar ataques contra empresários e turistas que estivessem de viagem. As autoridades comunicaram as apreensões em Novembro, embora não houvesse clareza sobre quando elas foram feitas.
Foi a segunda vez em 2021 que planos de terrorismo iranianos foram frustrados em África com a ajuda de agências do Ocidente. Em Fevereiro de 2021, agências conjuntas de inteligência impediram células apoiadas por iranianos de realizar ataques contra embaixadas estrangeiras na Etiópia e no Sudão.
O Irão possui um histórico longo e complexo de tentativas de espalhar a sua influência no continente, mas as suas tentativas de doutrinar as pessoas, recrutar e treinar terroristas e colher inteligência sobre potências do Ocidente e do Médio Oriente ganhou ímpeto nestes últimos anos.
“A política do Irão com relação ao continente foi historicamente impulsionada por conveniência e aspirações para exportar o seu ponto de vista do mundo revolucionário de 1979,” Glen Segell, docente convidado e assistente de pesquisa do Departamento de Estudos Políticos e de Governação da Universidade do Estado Livre, na África do Sul, disse à ADF num e-mail. “Contudo, a sua adopção de uma política de pivot de África foi também em resposta à necessidade de lutar contra sanções e isolamento, criando parcerias com actores estatais, sub-estatais e não-estatais do continente.”
A mobilidade operacional da Força Quds e a sua capacidade de criar contactos com estes actores, assim como com grupos cívicos e religiosos bem como com a comunidade empresarial em África, ajudaram o Irão a criar uma “profundidade estratégica,” acrescentou Segell.
Apoio a Facções Rebeldes
Trabalhando por intermédio da milícia do Hezbollah do Líbano, o Irão apoiou grupos radicais em África, de acordo com a revista The National Interest. Através do Hezbollah, o Irão apoiou os grupos rebeldes da Frente do Polisário no Sahara Ocidental e nas regiões vizinhas desde pelo menos 2017. O Marrocos cortou laços diplomáticos com o Irão como resultado disso. Pensa-se que o Irão também esteja activamente a recrutar combatentes nos países vizinhos de Mauritânia e Tunísia.
“Não há mais precisão de se falar apenas do Irão na África Ocidental,” um oficial de alta patente do Marrocos disse à The National Interest. “Os iranianos estão espalhados por todo o continente agora.”
Na República Centro-Africana, a Força Quds trabalhou com o Hezbollah para recrutar e treinar membros de um grupo armado chamado Saraya Zahra, com o objectivo de levar a cabo ataques contra alvos estratégicos na região. O Irão utiliza estratégias semelhantes nos Camarões, na República Democrática do Congo (RDC), no Gana e no Níger.
O Irão também esteve indirectamente envolvido na guerra que teve a duração de um ano na região etíope de Tigré, tendo fornecido à Força Aérea Etíope pelo menos dois drones. Para além de baixas nas forças rebeldes, os ataques de drone destruíram infra-estruturas e mataram civis, incluindo 17 pessoas que estavam a trabalhar numa fábrica de farinha, no dia 10 de Janeiro, e pelo menos 56 que estavam num acampamento para pessoas deslocadas, no dia 7 de Janeiro.
Luta pelo Poder
Depois da eclosão da guerra do Irão-Iraque, em 1980, a política do Irão em África buscava limitar a influência das potências rivais do Médio Oriente no continente, disse Segell.
Até finais da década de 80, o Irão tinha criado capital político em África, “encorajando conversões para o Islamismo Shi’i no continente e apoiando os movimentos anti-apartheid de África,” disse Segell. “Em simultâneo, o Irão implementou projectos de construção e desenvolvimento no continente, através da Jihad-e-Sāzandegi, uma organização criada para ajudar comunidades ‘oprimidas’ no mundo inteiro.”
Também criou uma rede de delegações da Universidade Internacional Al Mustafa em África, que o IRGC e a Força Quds utilizam para recrutar fontes de inteligência e doutrinar os residentes locais. Em Dezembro de 2020, o Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções contra a universidade pelas suas práticas de recrutamento IRGC-Quds.
A universidade possui delegações na República Democrática do Congo, Madagáscar, Níger e África do Sul, de acordo com a Hoover Institution, um grupo de reflexão de políticas públicas dos EUA.
ADF is a professional military magazine published quarterly by U.S. Africa Command to provide an international forum for African security professionals. ADF covers topics such as counter terrorism strategies, security and defense operations, transnational crime, and all other issues affecting peace, stability, and good governance on the African continent.