EQUIPA DA ADF
A COVID-19 muda constantemente, adapta-se e apresenta mutações, tudo isso para ajudar a si própria a propagar-se. Estas alterações frequentemente afectam as proteínas spike do vírus, a chave que utiliza para destrancar as células humanas.
As ilustrações do vírus da COVID-19 tipicamente apresentam-se como uma bola coberta de nódulos. Os nódulos são as proteínas spike, pedaços de material que o vírus utiliza para abrir as células humanas de modo que possa deslizar para dentro e começar a replicar-se.
Cada vírus possui duas a três dezenas de proteínas spike. Cada spike é uma potencial chave para destrancar uma célula. Através da mutação das suas chaves o vírus aumenta as possibilidades de sucesso.
“As mutações nas proteínas spike são de grande interesse,” Dr. Adrian Puren, director-executivo interino do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul, disse recentemente à televisão SABC.
Cada nova infecção pela COVID-19 oferece ao vírus uma outra possibilidade de realizar mutações — mais uma possibilidade de desenvolver a proteína spike que irá contornar as defesas do corpo. Embora a maior parte das mutações não produzam uma vantagem, de vez em quando aparece uma que faz com que o vírus fique mais forte, mais rápido e mais capaz de invadir as defesas naturais do corpo.
Desde o aparecimento das variantes Alfa e Beta, em Dezembro de 2020, os cientistas e os especialistas em matéria de saúde pública viram-se continuamente a reagir a novas variantes.
No ano passado, os pesquisadores detectaram mais de uma dezena de variantes que são preocupantes o suficiente para ganhar a atenção da Organização Mundial de Saúde (OMS). Todas as variantes recebem nomes científicos contendo letras e números. Aquelas que são designadas de variantes de preocupação ou variantes de interesse por causa da sua infecciosidade ou de outros factores recebem nomes das letras do alfabeto grego.
Os laboratórios africanos detectaram Beta, Eta, C.1.2 e as novas variantes B.1.640 e Ómicron.
A variante Alfa apareceu primeiramente na Europa, antes de propagar-se para África. A variante mortal Delta, que causou a terceira onda de infecções em África, em meados de 2021, e matou mais de 70.000 pessoas, foi primeiramente detectada na Índia.
Os cientistas afirmam que o país onde um vírus é detectado não é necessariamente o seu ponto de origem.
“É difícil ou impossível descobrir a origem das variantes,” Dr. Túlio de Oliveira, director do CERI, o Centro de Resposta e Inovação Epidémica, disse ao SABC.
Até agora, perto de 45 países africanos registaram as variantes Alfa, Beta e Delta. Muitas vezes, as variantes sobrepõem-se nos países, de acordo com o Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC).
Todas as variantes notáveis possuem mutações nas suas proteínas spike. Em alguns casos, elas possuem múltiplas mutações.
A variante C.1.2 é a variante com maior número de mutações que os cientistas tinham descoberto até aquele momento. Os cientistas acreditam que esse foi o resultado de um tempo prolongado que pode ter levado para que uma pessoa com imunidade comprometida combatesse o vírus. A variante B.1.640 foi ainda mais complexa, acrescentando mutações a sete proteínas spike e apagando várias outras, de acordo com o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças.
A variante B.1.640 chamou a atenção quando apareceu entre alunos de uma escola da França. A França perfaz 63% do número de casos de B.1.640, com a República do Congo a registar 15%.
Os líderes de saúde pública de África continuam a apelar a população a usar as máscaras, lavar as suas mãos frequentemente e evitar grandes aglomerados e lugares fechados para reduzir a propagação da COVID-19 no geral e o surgimento de variantes, em particular.
Enquanto a OMS e o Africa CDC expandem a capacidade do continente de analisar infecções da COVID-19 a nível genético, a probabilidade aumenta para os cientistas encontrarem mais variantes e mais alterações na proteína spike do vírus.
Embora as mutações criem o potencial para que o vírus seja mais contagioso, isso nem sempre acontece. As variantes Eta e C.1.2 continuam a ser os actores de menor envergadura na luta do continente contra a COVID-19.
Puren estimou que a C.1.2 perfaz menos de 5% de casos na África do Sul, apesar do seu maior número de mutações.
“Aquele vírus parece ser muito diferente em termos de mutações e mesmo assim ainda não teve um maior impacto na África do Sul,” disse Puren. “Penso que apenas precisamos de ser cautelosos.”