EQUIPA DA ADF
Em pleno precipício de uma guerra civil desenfreada, a Etiópia não demonstra sinais de mudança.
Pelo contrário, o conflito já abrangeu todas as 10 regiões étnicas do país.
O que começou como uma disputa política na região de Tigré, há nove meses, transformou-se num conflito militar que se intensificou de forma dramática. As alegações incluem massacres de civis, centenas de denúncias de violações e uso do acesso à comida como uma arma, através da destruição das machambas pelo fogo e recusa de ajuda alimentar.
“Não é difícil ver esta situação má a piorar numa diversidade de cenários possíveis,” Michelle Gavin, membro sénior dos Estudos Africanos, no Conselho de Relações Externas, escreveu na página da internet daquele grupo de reflexão. “Desde o potencial colapso do Estado à catástrofe humanitária até ao verdadeiro risco de genocídio.”
O Primeiro-Ministro, Abiy Ahmed, vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2019, foi admoestado pelos líderes internacionais pela maneira como faz a gestão da espiral do conflito.
Uma acção militar contra o antigo partido no poder da Etiópia, a Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), começou no início de Novembro de 2020, depois de um grande ajuntamento de forças ao longo das fronteiras sul e norte de Tigré.
As forças federais, a Força de Defesa Nacional da Etiópia (ENDF), tinham o apoio de milícias étnicos da região de Amara, a sul de Tigré. A ENDF também colaborou com as tropas da Eritreia, o vizinho da parte norte deste país e inimigo de longa data da TPLF.
Três semanas depois, Abiy declarou vitória, apesar de reconhecer que as forças de Tigré tinham passado para uma guerra de guerrilha.
Parecia que o conflito tinha sido contido em Tigré, até Junho de 2021, quando a TPLF começou a repelir as forças federais e as milícias.
No dia 28 de Junho, a TPLF retomou a capital da região, Mekelle, e foi recebida em celebração pelos residentes. No mesmo dia, Abiy apelou para um cessar-fogo unilateral, mas, duas semanas depois, admitiu que o mesmo havia fracassado.
Depois de tomar a maior parte de Tigré, as forças da TPLF avançaram contra as milícias Amara a Sul e a Oeste, em Julho, para reconquistar o território que esteve em disputa por várias décadas.
Depois, os combatentes tigrenhos avançaram para o leste numa tentativa de quebrar um bloqueio federal de ajuda alimentar.
Abiy respondeu ameaçando dar continuidade à guerra e apelou para um esforço unido para derrotar a TPLF, que o governo designou de uma “organização terrorista” no início deste ano.
Forças provenientes de Afar, Amara, Oromia, Sidama e países, nacionalidades e povos das regiões do sul juntaram-se à ENDF. As restantes regiões étnicas da Etiópia — Benishangul-Gumuz, Gambela, Harari e Somali — anunciaram que também enviariam tropas.
“A nossa força de defesa, as forças especiais regionais e a milícia são dirigidas para acabar com a destruição dos traidores e dos terroristas da TPLF … de uma vez por todas,” disse Abiy no dia 10 de Agosto. “Agora é o tempo certo para todos os etíopes maiores de idade se juntarem às forças de defesa, forças especiais e à milícia e demonstrarem patriotismo.”
Especialistas estão preocupados com a retórica cada vez mais incendiária de Abiy — ele descreveu a TPLF como sendo “o cancro da Etiópia,” “ervas daninha,” que devem ser removidas, e uma “doença” — e eles acreditam que ele pretende fazer uma ofensiva num esforço para destruir a TPLF.
O analista político, Solomon Ketema, alerta que a tentativa de Abiy de criar uma coligação de forças étnicas regionais pode ser um tiro pela culatra.
“Uma ofensiva em grande escala implica que o conflito não será mais confinado à região,” disse Ketema ao jornal queniano, The Daily Nation, no dia 8 de Agosto. “O passo pretendido é tão perigoso.”
Ketema alertou que as partes devem dar passos para trás em relação ao conflito ou arriscam-se a colocar o próprio país em perigo.
“Pode provavelmente ser a jornada inicial em direcção à desintegração do país.”