Caça Furtiva do Abalone Alimenta o Uso de Drogas e Dizima Recursos
EQUIPA DA ADF
No início da década de 90, uma relação simbiótica começou entre os caçadores furtivos do abalone da África do Sul e os sindicatos do crime organizado da China, onde o grande caracol marinho é considerado uma iguaria.
Esta relação, que inclui quadrilhas africanas e traficantes de drogas chineses, continua até hoje.
Chamado de “ouro branco” por causa da sua parte inferior de cor de pérola, os caracóis são considerados um item de luxo. O aumento acentuado da procura na década de 1990 criou uma indústria de exportação que movimentava vários bilhões de dólares a nível mundial — e uma indústria de caça furtiva na África do Sul.
Das 56 espécies de abalone a nível mundial, cinco são encontradas na África do Sul. Uma delas, Haliotis midae, é considerada como estando entre as mais deliciosas. Esse molusco cresce lentamente, levando oito a nove anos para alcançar o tamanho mínimo legal em que pode ser recolhido.
Já esteve em abundância em dois terços da costa da África do Sul, mas agora as unidades populacionais de abalone estão em declínio num ritmo sem precedentes, encontrando-se em níveis criticamente baixos.
O grupo de monitoria do comércio de produtos provenientes da vida selvagem, denominado Traffic, estima que 2.000 toneladas métricas de abalone são capturadas de forma ilegal nas águas sul-africanas anualmente. Estima-se que a indústria ilícita esteja avaliada em pelo menos 60 milhões de dólares por ano.
“Estes encontram-se entre os níveis de caça furtiva mais elevados que já vimos nos últimos 20 anos,” Markus Burgener, oficial de programas sul-africano, da Traffic, disse em 2018 num documentário designado “Empty Shells.”
Para piorar o assunto para os pescadores locais que obedecem à lei, a África do Sul reduziu os seus limites permitidos de abalone colhido de forma legal para 80 toneladas métricas, em 2007.
A Traffic estima que, de 2000 a 2018, os caçadores furtivos retiraram pelo menos 96 milhões de dólares em abalone da costa da África do Sul.
Durante a maior parte do Séc. XX, a população de abalone esteve estável, de acordo com o Professor Peter Britz, da Rhodes University, em Makhanda, África do Sul.
“Mas depois, em meados da década de 90, surgiu a tempestade perfeita,” disse o professor, num documentário denominado “Ouro Branco,” descrevendo como o aumento da procura da China coincidiu com a África do Sul do pós-apartheid a voltar a juntar-se aos mercados do comércio global. “Estimulou uma corrida em busca do abalone. De forma muito rápida, o crime organizado entrou em cena.
“Inicialmente, as pessoas pescavam para si próprias, mas depois as quadrilhas chegaram. Os sindicatos chineses forneceram os canais do mercado para a Ásia.”
O abalone é tipicamente vendido por caçadores furtivos por uma fracção do seu valor para as quadrilhas locais, disse Britz. Depois, eles são postos a secar e contrabandeados para os países como Eswatini, Lesoto e Namíbia, antes de os sindicatos os exportarem para Hong Kong.
Com o passar dos anos, as quadrilhas da África do Sul e os seus compradores chineses desenvolveram uma melhor economia, substituindo uma troca de drogas por abalone em vez de utilizar numerário.
Os sindicatos chineses, que operam na África do Sul por várias décadas, comercializam precursores químicos utilizados para fazer drogas como metaqualona, que é também conhecida como “Mandrax”, na África do Sul, e metanfetamina em cristal, que é também conhecida localmente como “tik.”
Não regulamentados e facilmente adquiridos na China, os precursores químicos são caros e difíceis de obter na África do Sul.
Até 2005, a metanfetamina tornou-se na droga de eleição na província do Cabo Ocidental, ultrapassando a metaqualona, a marijuana e o álcool, de acordo com a Rede Comunitária de Epidemiologia Sul-Africana sobre o Uso de Drogas.
“Por causa do envolvimento do crime organizado e as aparentes ligações às quadrilhas da Cidade do Cabo, as ligações entre o comércio de abalone e o comércio de drogas, existem também alguns impactos claramente negativos associados a ele,” disse Burgner. “Existe uma coorte inteira de pessoas ao longo da costa que estão envolvidas e a sua experiencia de trabalho é apenas no âmbito de uma economia ilícita.”
A produção de metanfetamina registou um declínio na África do Sul recentemente, numa altura em que novas linhas de fornecimento emergiram da Nigéria e do Médio Oriente. Apesar destas alterações, a relação entre os mercados ilegais de abalone e de drogas continua. E isto não é bom para os pescadores legais.
“É inevitável que as pescas venham a colapsar,” disse Britz.
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