Redes de Deriva Ilegais Dizimam a Vida Marinha no Oeste do Oceano Índico
EQUIPA DA ADF
Um grande arrastão foca, com as suas luzes enormes e com características de luzes de estádio, para o fundo das águas no oeste do Oceano Índico.
A função das luzes era de atrair atum e lulas, mas o arrastão estava a utilizar redes de deriva ilegais — banidas há 30 anos pelas Nações Unidas — e estas redes puxavam tubarões e raias mantas a cerca de 500 milhas ao largo da costa da Somália. As redes de deriva ficam penduradas de forma vertical em dispositivos flutuantes arrastados pelos barcos de pesca e podem recolher quantidades indiscriminadas de vida marinha.
Em meados de Abril, a Greenpeace divulgou um relatório sobre o uso de redes de deriva, depois de passar duas semanas a rastrear embarcações de pesca na região. Durante a sua investigação, a Greenpeace testemunhou sete barcos locais a arrastarem duas paredes de redes de deriva com mais de 34 quilómetros de comprimento e documentaram mais de 100 embarcações de pesca de lulas a operarem na área sem regulamentos internacionais.
“Não estávamos preparados para a quantidade de arrastões que vimos naquela noite,” Will McCallum, director da área de oceanos da Greenpeace, Reino Unido, disse num vídeo produzido pelo jornal singapurense, The Strait Times. “Eles pescam nesta escala incrível e é realmente surpreendente o quão pouco nós sabemos sobre a forma como eles praticam esta pesca.”
O uso de redes de deriva ameaça as unidades populacionais de peixe da região da África Oriental, que são especialmente poucas ao largo da costa de Quénia, Moçambique e Tanzânia. A perda de peixe aumenta a insegurança alimentar e ameaça a segurança dos empregos daqueles que trabalham em actividades comerciais relacionadas com a pesca.
“Descobrimos que as capturas de peixe têm estado a reduzir em África nestes últimos anos em milhões de toneladas por ano e … a maior parte deste declínio, na África Oriental, deve-se ao declínio da quantidade das unidades populacionais de peixe,” Tim McClanahan, autor de um artigo do ano de 2020, que foi publicado no jornal Marine Ecology Progress Series, disse ao sciencedaily.com.
Assim como o arrasto de fundo, que arrasta as redes pelo fundo do oceano, removendo até 20% da flora e fauna do fundo dos oceanos numa única passagem, o uso de redes de deriva, muitas vezes, resulta em captura acessória ou peixe não desejado. A captura acessória é tipicamente deitada de volta para a água, morta ou quase a morrer, uma prática desperdiçadora usada na África Oriental, que a Greenpeace considera como um dos locais de pesca mais ecologicamente vulneráveis do mundo.
Cerca de um terço da população de peixe avaliado na parte ocidental do Oceano Índico foi alvo de pesca excessiva, comunicou a Greenpeace.
Em 2016, a Sea Shepherd Global seguiu seis embarcações de pesca chinesas no Oceano Índico, uma das quais abandonou uma rede de deriva de 4 quilómetros na água quando a embarcação da Sea Shepherd se aproximou. Durante mais de dois dias, a tripulação da Sea Shepherd conseguiu trazer a rede de deriva abandonada para a sua própria embarcação e foi capaz de devolver 18 tubarões vivos para o oceano.
Contudo, corpos de 321 outros animais foram encontrados mortos numa rede, incluindo tubarões, golfinhos, pequenas espécies de peixes pelágicos, atum e peixe-espada.
“As redes de deriva são particularmente perigosas, porque matam indiscriminadamente, são cortinas invisíveis da morte que podem capturar qualquer criatura marinha que nada cegamente,” Peter Hammarstead, director de campanhas da Sea Shepherd, disse à ADF num e-mail.
O relatório da Greenpeace lançou um apelo para os governos melhor reforçarem a proibição de uso de redes de deriva e para os líderes do mundo procurarem reverter as tendências da pesca ilegal e do declínio da quantidade das unidades populacionais de peixe através da adesão a um Tratado Global dos Oceanos através das Nações Unidas.
“Este tratado, que funciona como um ponto de referência, pode criar ferramentas para reverter a destruição dos oceanos e ressuscitar os ecossistemas marinhos, protegendo espécies de valor incalculável e apoiando as comunidades costeiras por gerações e gerações,” McCallum disse num comunicado de imprensa.
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