EQUIPA DA ADF
Quando a lua brilha nas ondas da costa da Libéria, um grupo de mergulhadores com lanternas e máscaras respiratórias mergulha no fundo das águas escuras. A partir do fundo do oceano, eles recolhem o maior número de pepinos do mar que conseguem.
Cobram 1,75 dólares por cada quilograma de pepinos-do-mar que recolherem. Numa noite boa, cada um apanha até 50 quilogramas.
Não é uma tarefa fácil. Os seus fatos de mergulho rasgam-se nas pedras; mergulhar para o fundo das águas pode causar sangramento pelas narinas e dores de cabeça; e eles arriscam-se a apanhar uma pneumonia lipóide por inalar fumos de compressores de oxigénio que funcionam à base de diesel.
Conforme foi noticiado pela BBC, não existe mercado local para os pepinos-do-mar na Libéria. A maior parte do pepino-do-mar capturado é exportado para a China, onde as criaturas com formato de picles são consideradas uma iguaria e, muitas vezes, utilizadas na medicina tradicional chinesa.
Na China e em Hong Kong, um quilograma de pepinos-do-mar processados é vendido por até 300 dólares, noticiou o jornal The East African.
Mercedes Wanguemert, um biólogo marinho e especialista em pepinos-do-mar, disse à BBC que não existem mais unidades populacionais de pepinos-do-mar na China.
Muitos dos mergulhadores da Libéria são provenientes da Serra Leoa, onde os pepinos-do-mar já foram alvo de pesca excessiva. As autoridades do sector de pesca estão preocupadas com a possibilidade de isso acontecer também na Libéria. Este receio é plausível porque aproximadamente 70% dos locais de pesca de pepinos-do-mar do mundo encontram-se sobreexplorados.
“Ninguém sabe que espécies estão a ser capturadas ou quais os tamanhos das unidades populacionais” na Libéria, disse Wanguemert. “Um máximo de 10% da população pode ser capturado de modo a manter níveis saudáveis.”
Os pepinos-do-mar ajudam a manter o ecossistema saudável, alimentando-se de matéria orgânica e microalgas e excretando areia limpa. Eles também mantêm os níveis de oxigénio e do pH da água.
A captura excessiva de pepinos-do-mar mata as algas, o que elimina a fonte de alimentos para peixes pequenos. Poucos peixes pequenos significa menos comida para os peixes maiores. Wanguemert recomenda que a Libéria imponha uma moratória de dois anos sobre a captura de pepinos-do-mar para que as unidades populacionais possam ser estudadas.
Alexander Dunbar, director de políticas, planificação e investimento na Autoridade Nacional de Pescas e Aquacultura, está ciente do risco da captura excessiva da espécie.
“Caso não haja uma boa gestão, grande parte dos nossos locais de pesca e os meios de subsistência que dependem deles podem entrar em colapso,” disse Dunbar à BBC.
É um refrão comum no continente onde os pepinos-do-mar são capturados e exportados a partir de 30 países, apenas seis dos quais comunicaram a existência desse comércio na década passada, de acordo com um estudo feito pela Traffic, uma organização não-governamental virada para o comércio sustentável de produtos provenientes da vida selvagem.
Um estudo divulgado pela Traffic, em Fevereiro, concluiu que o comércio não declarado e ilegal ou a colecta de pepinos-do-mar é especialmente prevalecente no Quénia, em Madagáscar, na África do Sul e na Tanzânia. Na Tanzânia, os contrabandistas movimentam pepinos-do-mar capturados de forma ilegal para o Zanzibar, uma região autónoma da Tanzânia, onde capturá-los não é ilegal, para que sejam transitados para as cadeias de fornecimento do comércio internacional.
Os comerciantes de Zanzibar exigiram regulamentos para o comércio de pepinos-do-mar.
“Os pepinos-do-mar são o nosso ganha-pão e nós dependemos deles para a nossa subsistência,” Amour Ali disse ao The East African . Ali disse que os comerciantes de pepinos-do-mar devem estar sujeitos à obtenção de licenças e devem ser autorizados a capturar ou comercializar apenas na época recomendada.
O estudo da Traffic exige que haja regulamentos mais rigorosos e maior escrutínio do comércio entre os países africanos e asiáticos.
“Os pepinos-do-mar podem não parecer especialmente promissores, mas estas espécies altamente valiosas encontram-se em declínio em todo o continente,” Camilla Floros, uma especialista da área marinha e líder do projecto na Traffic, disse na página da internet da organização. “Eles continuam a ser explorados por redes criminosas organizadas para o prejuízo dos ecossistemas marinhos e do desenvolvimento humano sustentável.”