EQUIPA DA ADF
Três anos depois do Grupo Wagner, da Rússia, ter começado a chegar à República Centro-Africana, os observadores internacionais levantaram preocupações sobre as execuções, torturas e outras acções perpetradas pelo grupo. Eles também questionam as suas interacções com as forças de manutenção da paz das Nações Unidas.
Contratados do Grupo Wagner agora fazem parte da luta entre as FACA, as forças armadas nacionais, e os grupos rebeldes conhecidos como Coligação de Patriotas para a Mudança (CPC), que no início deste ano controlavam cerca de 80% do país.
Os confrontos intensificaram-se depois das eleições do dia 27 de Dezembro de 2020, quando o Presidente Faustin-Archange Touadéra ganhou o segundo mandato de cinco anos. Touadéra emprega um membro do Grupo Wagner como seu conselheiro nacional de segurança. Outros contratados do Wagner servem como seus homens de segurança.
As forças governamentais tornaram-se mais agressivas depois de repelirem um assalto na capital, Bangui, em Janeiro de 2021. O conflito com a CPC deixou 2,8 milhões dos 5 milhões de habitantes da RCA com necessidade de ajuda humanitária visto que muitos fogem das regiões de conflito.
Especialistas do Grupo de Trabalho das Nações Unidas, em relação ao uso de mercenários, afirmam que receberam relatos de execuções sumárias, desaparecimentos, ataques contra organizações humanitárias e outros tipos de violência perpetrados pelo Grupo Wagner e por outros contratados que apoiam as FACA e, em alguns casos, por membros das forças de manutenção da paz das Nações Unidas.
No seu relatório, os especialistas do grupo de trabalho afirmam que estavam profundamente chocados pela forma como as bases do Grupo Wagner estavam tão próximas das bases das forças de manutenção da paz e pelos relatos dos conselheiros ou formadores russos que visitavam as bases das Nações Unidas ou que eram evacuados do local de batalha por tropas das Nações Unidas.
O Grupo Wagner trouxe veículos pesados e outros equipamentos para o país a partir do Sudão do Sul.
“Esta falta de clareza das linhas entre operações civis, militares e de manutenção da paz durante as hostilidades cria confusão quanto aos alvos legítimos e aumenta o risco de abusos generalizados de direitos humanos e de leis humanitárias,” afirma o relatório.
MINUSCA, a Missão de Estabilização Integrada Multidimensional das Nações Unidas na República Centro-Africana, mantém cerca de 13.000 soldados de manutenção da paz na RCA desde 2014. Desde que a CPC começou os seus assaltos contra o governo, a MINUSCA apoiou as missões das tropas governamentais contra a coligação, colocando-a no mesmo lado dos conflitos com o Grupo Wagner.
Aboubacar Siddick Ali, porta-voz da CPC, acusou a MINUSCA de lutar lado a lado com mercenários russos — uma acusação que a MINUSCA refuta.
O porta-voz da MINUSCA, Vladmir Monteiro, disse que as interacções entre os dois grupos consistem na troca de informação para evitar confusão no campo de batalha.
“Estas forças encontram-se no terreno e nós estamos também no terreno,” disse Monteiro à agência turca Anadolu. “Não se trata de uma operação conjunta.”
Especialistas do Grupo de Trabalho, falando sobre o uso de mercenários, afirmaram que o governo precisa de clarificar os papéis dos grupos internacionais que operam na RCA e exigir que os mesmos sejam responsabilizados ao violarem as leis internacionais.
“A estreita ligação entre os actores, juntamente com a falta de transparência, coloca em perigo as possibilidades de qualquer investigação imparcial e garantia da responsabilização daqueles abusos e violações,” relatou o Grupo de Trabalho.