Sistema de Radares Impulsiona Esforços de Protecção da Floresta Tropical do Congo
EQUIPA DA ADF
O ponto onde se encontra a segunda maior floresta tropical do mundo, a Bacia do Congo, desempenha um papel crucial na biodiversidade mundial, qualidade da água e na regulação da quantidade de dióxido de carbono na atmosfera.
Todos estes benefícios estão a ser atacados. Apenas em 2019, aproximadamente 7.000 quilómetros quadrados de floresta desapareceram da República Democrática do Congo (RDC). Muitos factores estão a provocar o desflorestamento, desde as práticas agrícolas tradicionais de corte e queimada até à mineração e ao abate ilegal de árvores. O desenvolvimento da auto-estrada transafricana Lagos-Mombasa também abriu partes previamente inacessíveis da floresta tropical, nos Camarões e na Nigéria, para o desenvolvimento.
No passado, para se fazer o rastreamento do desflorestamento dependia-se de observação visual de fotos tiradas a partir de satélites. Cobertura de nuvens densas obscureciam a vista da floresta a partir de cima durante a maior parte do ano, fazendo com que fosse difícil responder de forma rápida para interromper a destruição. Os praticantes da exploração ilegal de madeira sabiam disso e faziam parte do seu trabalho sujo durante a época chuvosa.
Actualmente, pesquisadores e defensores das florestas podem utilizar uma combinação de um radar que funciona com base em satélites, aplicativos para smartphones e observações no terreno para cortar as nuvens e identificar mesmo pequenas alterações na floresta tropical de semana a semana e tomar medidas para desactivar a actividade ilegal.
O desenvolvimento do RADD, Radar para Detecção de Desflorestamento, pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e a Universidade & Pesquisas de Wageningen, na Holanda, colocou uma maior capacidade nas mãos daqueles que lutam para preservar a floresta tropical.
O sistema emite alertas disponíveis publicamente para subscritores, quando surge um desflorestamento. Imagens semanais de satélite provenientes do Sentinel-1, da Agência Espacial Europeia, capturam alterações, por mais pequenas que sejam, que chegam a medir 100 metros quadrados, permitindo que os pesquisadores e os grupos de conservação como a Global Forest Watch, do Instituto de Pesquisas Globais, identifiquem alterações nas florestas quase na mesma altura em que estas ocorrem.
O sistema RADD cobre a Bacia do Congo, que inclui os Camarões, a República Centro-Africana, a RDC, o Gabão e a República do Congo.
A nova tecnologia à base de radares reforça as outras tecnologias, como o aplicativo para smartphones Forest Watcher, para documentar actividade ilegal.
Um estudo recente, publicado no Nature Climate Change, demonstrou que os alertas emitidos pelo sistema baseado em satélite, Global Land Analysis and Discovery, da Global Forest Watch, ajudaram os países ao redor da Bacia do Congo a reduzirem a actividade ilegal em 18%, em comparação com a média para o período 2011-2016.
“Este decréscimo em África é maior ainda nas áreas protegidas e nas concessões, sugerindo que os alertas aumentaram a capacidade para fazer cumprir as políticas de desflorestamento ou induziram o desenvolvimento de mais políticas eficazes de combate ao desflorestamento,” comunicaram os autores do estudo.
Um exemplo disso é o Uganda, onde a Global Forest Watch e o Instituto Jane Goodall desenvolveram o aplicativo Forest Watcher para documentar a desflorestação. A tecnologia ajudou um fiscal da Autoridade Nacional de Florestas do Uganda a desactivar uma operação de exploração ilegal de madeira.
“Ele foi capaz de descobrir uma operação de exploração ilegal de madeira relativamente grande por baixo das copas das árvores, por baixo do dossel,” disse Lilian Pintea, vice-presidente de ciências de conservação no Instituto Jane Goodall. “Ele foi capaz de tirar uma fotografia e localizar o ponto. Essa informação armazenada no seu dispositivo móvel foi utilizada como prova no tribunal e fomos capazes de prender os furtivos.”
Mesmo com tecnologia como o RADD ao seu dispor, os conservadores estão a lutar contra uma ameaça constante para a floresta tropical, desde o desenvolvimento industrial até à caça furtiva.
O número de estradas para a exploração que passam pela Bacia do Congo aumentou drasticamente nestes últimos anos, abrindo-a para a exploração legal e ilegal de madeira assim como para o plantio de cacau e outras actividades.
“Quando se constrói uma nova estrada, tem-se duas ou três vezes mais desflorestamento na RDC do que em qualquer outro lugar da Bacia do Congo,” professor Bill Laurence, da Universidade de James Cook, na Austrália, disse ao Science Daily. Laurence trabalhou em África por mais de uma década e mapeou toda a rede de estradas da RDC com recurso a imagens de satélite.
Desde 2003, o sistema de estradas da RDC cresceu em 60% para 233.000 quilómetros, de acordo com a sua pesquisa.
O governo da RDC comprometeu-se a aumentar o abate de madeira. Em 2018, concessionou 650.000 hectares de floresta tropical para empresas chinesas de exploração de árvores.
“E isso é apenas a ponta do iceberg,” disse Laurence.
Comentários estão fechados.