Ensinando os Guerreiros do Amanhã
As Instituições de Ensino Profissional Militar Devem Imprimir Reformas Para Atender aos Novos Desafios de Segurança
MAJOR GENERAL (REFORMADO) MUHAMMAD INUWA IDRIS
Todos os oficiais militares beneficiaram de ensino militar profissional (PME) ao longo das suas carreiras. O PME está estruturado para incluir uma mistura de treino, aquisição de habilidades e instruções tradicionais de sala de aula. Foi concebido para dar suporte ao soldado desde o começo da sua carreira até à altura em que ele sai do serviço activo. Molda as atitudes visando a melhoria dos alcances das missões individuais e institucionais. Está dividido em níveis e compartimentalizado entre os alistados e os quadros oficiais.
Os soldados que estudaram nas mais prestigiadas instituições de PME carregam com eles este orgulho de realização ao longo das suas carreiras.
Para soldados alistados, o PME começa nas instituições de treino inicial e culmina nas academias de subtenentes. Para os oficiais, o PME começa nas academias de treino inicial de oficiais, passa pelos colégios de guerra ou instituições equivalentes até à educação política e estratégica. É um facto conhecido que a progressão nas carreiras do exército está estruturada para ser consistente com o PME necessário e relevante em todos os níveis. Isto demonstra que o exército é uma organização adaptável, com ênfase no aprendizado contínuo.
Adapte-se ou pereça
É importante que estas instituições não se tornem rígidas. Avaliações regulares de PME devem ser feitas para determinar se está a alcançar a sua função e os seus objectivos. Isso é particularmente urgente hoje, tendo em conta os ambientes complexos em que o exército se encontra a operar. Ao avaliar um PME, deve-se admitir que o sucesso é misto. No lado positivo, a estrutura e a conduta do PME é impressionante e bem-sucedida. Estas são instituições sérias com requisitos académicos rigorosos. Contudo, o resultado em termos de desempenho e sucesso das missões, em muitas partes do continente, não são tão encorajadores.
Eu falo a partir do contexto do exército nigeriano, que é por onde passei a minha carreira. É a instituição com a qual estou mais familiarizado. Numa carreira de 35 anos, eu tive a sorte de passar os últimos cinco anos em diferentes instituições de PME como comandante-general. Através desta experiência, eu vi os pontos fortes e a importância de PME. Também notei a urgente necessidade de reformar e adaptar para satisfazer as exigências dos ambientes das ameaças actuais.
No exército nigeriano, o PME está estruturado, especialmente para o quadro de oficiais, de maneira que não se pode aspirar a patentes superiores sem incremento de exposições e experiência em PME. Isto começa com o treino inicial de oficiais na Academia de Defesa da Nigéria e culmina com a educação estratégica, próximo do ponto mais alto dos generais. Este aspecto estrutural de PME é considerado um sucesso e é semelhante à forma como o PME está estruturado em outros países africanos.
Os exércitos africanos promoveram com sucesso a aprendizagem ao longo da carreira, entretanto, está cada vez mais evidente que a formação e os incentivos para o sistema de ensino militar nem sempre produzem os resultados desejados. O maior incentivo para oficiais é embarcar e concluir cursos relevantes para progredir para patentes superiores. O PME passou a ser uma caixa de verificação em que vão marcar com um certo para poder subir na escada. O uso do ensino adquirido para completar as tarefas e resolver problemas complexos no terreno tem sido suspeito. O resultado disto é um exército que está cada vez mais reactivo com planos a curto prazo e com as capacidades para realização das missões a diminuírem rapidamente. Isto é evidente na forma como as tarefas atribuídas são confrontadas e conduzidas.
Novas Ameaças
A mudança é urgente. O continente está a enfrentar uma vasta gama de ameaças extremistas em lugares tais como a Bacia do Lago Chade, o Sahel, a região dos Grandes Lagos e o Corno de África. Muitas destas ameaças continuaram a crescer por muitos anos antes de os países, em particular, terem desenvolvido estratégias coerentes com a resposta. Tem levado cada vez mais tempo para que as parcerias de segurança regionais tomem forma. Este é um desafio para instituições de PME, que deviam olhar para as suas abordagens e perguntar se estão a treinar profissionais militares para serem proactivos para com questões voláteis, incertas, complexas e ambíguas (VUCA).
A avaliação de como os militares conduzem as operações de insurgência contra o grupo terrorista Boko Haram na Nigéria deixou claro as deficiências do PME na preparação do exército. Por exemplo, nos primeiros anos da insurgência, a maior parte das missões eram produzidas em reacções rápidas aos ataques dos insurgentes sem planificação adequada. Os sistemas de inteligência e de alertas antecipados dependiam amplamente da informação de código aberto e careciam de análise. Os sistemas de logística e de aprovisionamento eram reactivos, a curto-prazo e sobejamente irrealistas. As ramificações dos serviços armados, predominantemente, conduziam operações independentes com pouca ou nenhuma coordenação.
Tudo isto diluía o sucesso da guerra contra os insurgentes e contribuía para o aprofundamento da politização e da falta de transparência em assuntos operacionais dentro do exército. O PME desempenha um papel importante na reversão destas tendências negativas.
Fazendo Perguntas Difíceis
A transformação militar exaustiva pode ser iniciada através do PME. Contudo, o PME deve primeiro ser transformado e refocalizado no sentido de resolver problemas. O PME deve ser reestruturado visando a garantia de que o exército está preparado para desenvolver respostas deliberadas, atempadas e duradouras para as ameaças VUCA, actuais e emergentes, em vez de respostas ad-hoc não planificadas. As instituições de PME devem começar a encontrar respostas e soluções para questões críticas tais como:
- Como é que os sistemas de planificação operacional podem ser mais robustos e realistas?
- Como é que se pode tornar os sistemas de alerta antecipado mais responsivos e adaptativos?
- Como é que os sistemas de logística podem ser mais eficientes e eficazes?
- Como é que os sistemas de aprovisionamento podem ser mais realistas e transparentes?
- Como é que as colaborações conjuntas e interinstitucionais podem ser melhoradas?
As respostas e as soluções para estas e muitas outras perguntas podem ser dadas pelo PME se ele for reorientado para assim o fazer. Essa reorientação pode ser iniciada com a vontade política e direcção correcta a partir de uma hierarquia militar. Além disso, teriam de ser feitos investimentos adequados e relevantes no PME para rever e actualizar os currículos e adquirir tecnologia relevante. Os avanços na tecnologia de informação e computação tornaram o aprendizado muito mais fácil para o exército, através de ferramentas de simulação e jogos de guerra. As instituições do PME devem ter acesso a estas ferramentas.
Sendo assim, embora se possa dizer que a estrutura e a entrega do PME tenham sido aperfeiçoadas, as habilidades de resolução de problemas aprendidas nos PME são inadequadas. Como oficiais militares, devemos nos apropriar deste problema. O exército tem uma tendência de fugir da responsabilidade, culpando sempre a classe política por não providenciar apoio financeiro para realizarem as suas missões. Em muitos países africanos, o exército era altamente politizado durante envolvimentos anteriores na governação política. A hierarquia do exército nas dispensações democráticas subsequentes fez muito pouco com vista a alcançar uma transformação e realinhamento exaustivos. Os esforços feitos na transformação do sector da segurança foram amplamente selectivos, não coordenados e não exaustivos. O resultado foi um esforço e investimento significativos com resultados irregulares e insatisfatórios.
Os desafios e a dinâmica do ambiente operacional actual estão a evoluir rapidamente. Isto explica em parte por que os exércitos parecem estar sobrecarregados num ambiente VUCA. As respostas e soluções devem ser encontradas em PME orientado e focalizado para a resolução de problemas, em oposição ao PME concebido na essência para efeitos de progressão de carreira.
Os PMEs contemporâneos para as nações africanas devem ser concebidos para lidar com necessidades específicas do exército como uma instituição e a nação como um todo. O sistema actual deve ser reavaliado com vista a sua reestruturação e realinhamento a fim de produzir melhores resultados. O PME deve ser feito deliberadamente contextual em termos de configurações de cenários realistas. Os currículos devem passar por testes e avaliações contínuos no campo e através de revisões de desempenho operacional para que possam ser obtidas lições relevantes para melhorias. Deve haver uma infusão de pensamento crítico e criativo a todos os níveis para que se motive e se encoraje a inovação na resolução de problemas. O PME deve permanecer actualizado com as tendências contemporâneas do uso de simulações e ferramentas de jogos de guerra para modelar as lições aprendidas aplicadas. As ferramentas de simulação também devem ser introduzidas para a projecção de futuros eventos e modelar as prováveis respostas e resultados. Estas ferramentas podem facilmente ser utilizadas para relacionar contextos estratégicos com ambientes locais, o que é necessário para operações militares contemporâneas, fazendo com que o PME seja mais adaptável, realístico, orientado para o futuro e visionário.
Espero que possamos continuar a tirar vantagens da assistência internacional para corrigir as deficiências e realinhar o PME para melhorar o desempenho. Os parceiros de desenvolvimento fizeram tanto e muito bem para nós. Os exércitos africanos devem, por conseguinte, estar à altura da ocasião na melhoria e no aperfeiçoamento das suas capacidades militares através do PME, enquanto os parceiros de desenvolvimento continuam a manter o apoio e a assistência.
O Major-General Idris é um antigo comandante da Academia Nigeriana de Defesa, em Kaduna. Ele serviu numa variedade de cargos ao longo de três décadas, incluindo chefe de Estado-Maior do Corpo de Inteligência do Exército Nigeriano e, depois da sua reforma do serviço activo, serviu no registo académico da Universidade de Baze, em Abuja. Ele possui dois mestrados pela Universidade Nacional de Defesa, de Washington D.C., e estudou em instituições de defesa no Reino Unido e no Paquistão. Recebeu a Medalha do Jubileu Dourado-Medalha Centenária para Militares Nigerianos e recebeu a Medalha de Estrela por Grandes Serviços em reconhecimento aos seus 30 anos de serviço.
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