Conflito Etíope Abala a Região

EQUIPA DA ADF

Nas últimas semanas, o mundo viu imagens chocantes provenientes da Etiópia. Refugiados a atravessarem a fronteira em direcção ao Sudão. Tanques a prepararem-se para bombardear alvos estratégicos em Mekelle, a maior cidade do norte do país. Forças regionais a jurarem lutar contra o governo federal até à morte. Um país à beira da guerra civil.

Então, de que modo isto chegou a este ponto? Como o segundo país mais populoso de África e um dos maiores contribuintes de tropas para missões de manutenção da paz em todo o mundo, a Etiópia tem há muito sido um pilar de estabilidade.

“A Etiópia é o Estado âncora do Corno de África,” Murithi Mutiga, director de projectos, do Projecto Corno de África, do Grupo Internacional da Crise, disse à Voz da América. “Como bem disse um diplomata: ‘Se houvesse uma grande crise internacional na Etiópia, a mesma não implodiria para dentro. Ela explodiria para fora.'”

O conflito entre a Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF), o partido político da região do extremo norte do país, e o governo federal baseado em Adis Abeba, levou décadas a formar-se. Os militantes da TPLF ajudaram a derrubar o regime brutal Derg, em 1991. Depois da libertação, o Primeiro-Ministro, Meles Zenawi, um ex-militante tigrés, liderou um governo de coligação por mais de 20 anos. Apesar de os tigrés perfazerem apenas 6% da população, eles gozavam de um poder sobrestimado durante este tempo.

“O poder político-militar da TPLF eventualmente deu lugar a um domínio económico,” escreveu o estudioso Kassahun Melesse, na revista americana Foreign Policy. “Possibilitou que os seus líderes exercessem controlo completo da economia do país e dos recursos naturais.”

Houve um aumento de tensões desde a altura em que Abiy Ahmed, um jovem reformador do grupo étnico Oromo, tornou-se Primeiro-Ministro em 2018. No início deste ano, Abiy dissolveu o partido político no poder, o EPRDF, e criou o Partido da Prosperidade, ao qual a TPLF recusou juntar-se.

Em Setembro, Tigré realizou eleições regionais contra as ordens do governo federal. Abiy chamou as eleições de “ilegais,” e o seu ministro encarregado pela democratização disse que “a TPLF ultrapassou a linha vermelha.”

O conflito agudizou-se no início de Novembro quando o governo federal acusou os militantes da TPLF de invadirem uma base militar para roubar armas.

O conflito subsequente incluiu bombardeamento aéreo. Mais de 43.000 pessoas fugiram do conflito para o Sudão. No dia 28 de Novembro, depois de cercar Mekelle, as Forças de Defesa Nacional Etíopes, recuperaram a cidade, incluindo um aeroporto e uma base militar. Embora as forças etíopes afirmem que utilizaram ataques de precisão para evitar mortes de civis, um apagão generalizado da internet e das telecomunicações fez com que fosse impossível fazer a confirmação.

Analistas dizem que os conflitos resultam de um período de transição difícil, uma vez que Abiy procura instituir reformas enquanto várias forças regionais e grupos étnicos procuram aumentar o controlo e tentam proteger aquilo que têm.

“Este conflito tem a ver com poder,” disse Zach Vertin, um membro não residente da Brooking Institution. “Tem a ver com a economia e tem a ver com concorrência entre visões de um Estado etíope. Tem a ver com o equilíbrio entre estabilidade e democratização, lealdades étnicas e identidade nacional. Tem a ver com a tensão entre o antigo status quo e o desejo de mudança.”

Os líderes do continente querem evitar mais instabilidade. Um grupo de três antigos chefes de Estado, incluindo a ex-presidente da Libéria e ganhadora do Prémio Nobel da Paz, Ellen Johnson Sirleaf, viajou para o país para tentar mediar. Abiy reuniu com o grupo, mas recusou-se em negociar directamente com a TPLF. O mundo está a observar ansiosamente para ver os próximos desenvolvimentos.

“Com um país de 110 milhões de pessoas, muitas vezes, se disse que a Etiópia é grande demais para fracassar,” disse Vertin. “Este conflito não poderia apenas alastrar-se para outras partes da Etiópia; — este conflito ameaça o corno de África em geral e a região mais ampla do Mar Vermelho.”

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