China Protege Peixe Local Enquanto Esgota as Unidades Populacionais de Peixe do Mundo

ADF STAFF

O governo chinês impôs recentemente uma rigorosa proibição de pesca, de 10 anos, no rio Yangtze, de 6.300 quilómetros, para preservar as populações de peixes nativos.
A acção foi feita em resposta a uma queda significativa da captura doméstica de peixe na China, que saiu de 7,65 milhões de toneladas em 2017 para 6,82 milhões de toneladas em 2019. Por muitos anos, a China fiscalizou agressivamente as suas águas. Em 2017, apreendeu 7.000 embarcações, confiscou 400.000 redes e registou 10.343 detenções por acusações relacionadas com a pesca, de acordo com uma reportagem da SeafoodSource.

A abordagem implacável da China contra a pesca ilegal doméstica encontra-se em contraste com as suas frotas de pesca em águas longínquas em África, onde arrastões chineses são famosos por empregar práticas de pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN), que dizimam as unidades populacionais de peixes locais e destroem o ecossistema. Em muitas partes de África, as autoridades locais simplesmente não possuem os recursos para fazerem cumprir as leis marítimas.

“A frota de pesca em águas longínquas da China está activa em todo o continente africano, visto que a frota chinesa de pesca massiva já pescou de forma excessiva nas suas próprias águas,” Peter Hammarstedt, director de campanhas da Sea Shepherd Global, disse à ADF, num e-mail. A Sea Shepherd trabalha com governos para combater a pesca INN no Benin, Gabão, Gâmbia e Libéria, muitas vezes, ajudando as forças da África Ocidental a prender e a multar arrastões chineses.

“Um excedente da capacidade da pesca doméstica — e um deficit da população de peixe local — são os ingredientes perfeitos para a exportação de métodos de pesca insustentáveis, práticas de pesca excessiva e ilegal,” disse Hammarstedt.

Os arrastões chineses geralmente usam redes enormes capazes de capturar toneladas de peixe por dia — muito acima da capacidade dos barcos de pesca locais — muitas vezes em zonas reservadas para pescadores artesanais, que dependem da pesca para terem rendimentos e alimentação.

As embarcações chinesas têm a fama de declarar números inferiores em relação às suas capturas reais, desactivar os seus sistemas de identificação automática (AIS) para evitar serem detectadas em águas protegidas, cortar as redes de pescadores artesanais e destruir barcos locais. A actividade ilegal, às vezes, resulta em morte.

Em Setembro, pescadores artesanais na Mauritânia exigiram a retirada de arrastões chineses das suas águas, quando um enorme arrastão chinês foi acusado de atingir deliberadamente um barco de pesca local, matando três mauritanos. A China opera sob um acordo de 25 anos que a permite pescar na Mauritânia, mas o arrastão chinês tinha desligado as luzes e o seu AIS, enquanto pescava numa zona reservada para pescadores artesanais, na escuridão da madrugada.

A China pode dizer que tais incidentes são acções privadas, mas um relatório recente, publicado pela Escola de Meio Ambiente de Yale, insiste que as frotas de pesca em águas longínquas da China ajudam o seu governo a “afirmar a sua dominação territorial.”

“O que a China está a fazer é colocar as duas mãos nas costas e usar a sua barriga grande para te empurrar para que te atrevas a atacar primeiro,” Huang Jin, antigo director do Centro sobre Ásia e Globalização, da Escola de Políticas Públicas de Lee Kuan Yew, em Singapura, disse no relatório da Yale.

Na Mauritânia, a operação de pesca Poly Handok, da China, é actualmente a sua maior base de pescas no exterior, que envia 10.000 toneladas de mariscos por ano, enquanto também produz farinha de peixe, assim como o fazem muitas outras empresas chinesas em África, de acordo com uma reportagem da SeafoodSource.

A China diz que a sua frota de pesca em águas longínquas possui cerca de 2.600 embarcações, mas estudos, como o que feito pelo Instituto de Desenvolvimento do Exterior, afirmam que o número é muito próximo de 17.000. Em comparação, a frota de pesca em águas longínquas dos EUA possui menos de 300 embarcações, de acordo com o relatório da Yale.

O número exacto de embarcações da frota de pesca em águas longínquas da China é difícil de quantificar, visto que muitas recebem bandeiras de outros países, principalmente africanos, de acordo com a Coligação para Acordos de Pesca Justos.

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