EQUIPA DA ADF
A segurança alimentar em África era um dos principais problemas antes de 2020, mas a pandemia da COVID-19 e as suas correspondentes consequências económicas pioraram os problemas de fome em todo o continente.
Pouco mais de um ano depois de o vírus eclodir, os líderes estão a reunir-se para encontrar soluções duradouras.
Uma coligação de bancos de desenvolvimento, incluindo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), o Banco Árabe para o Desenvolvimento Económico de África e o Fundo Internacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento Agrícola, anunciou, no dia 30 de Abril, o compromisso de disponibilizar mais de 17 bilhões de dólares para a melhoria da segurança alimentar no continente.
“Penso que é altura de estabelecermos uma facilidade financeira para a segurança alimentar e nutricional em África,” disse o Presidente do BAD, Akinwumi Adesina, durante uma conferência virtual. “A COVID-19 causou destruição. Para além do número de pessoas que morreram, o impacto sobre a segurança alimentar de África foi severo.
“Actualmente, 246 milhões de africanos passam fome diariamente.”
Mais de 155 milhões de pessoas em todo o mundo sofreram graves problemas de segurança alimentar em 2020, em comparação com 135 milhões em 2019, de acordo com o relatório anual da Rede Global contra Crises Alimentares (GNAFC), divulgado no dia 5 de Maio.
“Os países africanos continuaram desproporcionalmente afectados por insegurança alimentar grave,” lê-se no relatório. “Cerca de 98 milhões de pessoas afectadas por grandes problemas de insegurança alimentar em 2020 — ou dois em cada três — encontram-se no continente africano.”
Com a pandemia global veio a contracção da economia, o desemprego e a interrupção das cadeias de fornecimento. Poucos países investiram de forma suficiente na formação agrária, pesquisa e infra-estruturas.
Num continente que importa 80 bilhões de dólares em produtos alimentares e agrícolas anualmente, a insegurança continua a fazer com que os agricultores abandonem as suas terras.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, chamou-o de ciclo vicioso.
“O conflito e a fome estão a reforçar-se mutuamente,” escreveu no relatório do GNAFC. “Precisamos de lidar com a fome e com o conflito em simultâneo para resolver ambos. Combater a fome é a base para a estabilidade e a paz.”
A necessidade de tomar medidas torna-se mais urgente a cada dia.
O sul de Madagáscar está à beira da fome. Dezenas de milhares de pessoas em partes de Burkina Faso, Nigéria e Sudão do Sul estão num estado de alerta máximo de fome. A insegurança alimentar evolui de forma rápida na África Ocidental e Central. Vários países da África Austral já declararam seca.
Os líderes africanos acreditam que a solução para a segurança alimentar pode vir de dentro.
“O estabelecimento de sistemas de produção e de transformação de produtos alimentares deve ser mais resiliente,” disse o presidente senegalês, Macky Sall, numa conferência virtual. “Esta já não é uma opção, é uma obrigação.”
Ele ofereceu uma lista de medidas:
- Acelerar a produção agrícola através do aumento do uso de tecnologias.
- Aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento.
- Optimizar as tecnologias.
- Melhorar a linguagem de negócios relacionados com a agricultura para se abrir para o mundo.
- Apoiar o acesso aos mercados e a instalação de infra-estrutura e equipamento básicos.
- Investir em novos negócios para transformar a produção agrícola de modo a apoiar os pequenos agricultores.
- Criar instalações para a transformação agrícola.
- Os actores acreditam no potencial para melhorar de forma significativa o comércio agrícola intra-africano, que se estima que seja menos de 20% das importações.
“Fazer com que tecnologias novas e adequadas cheguem às mãos dos agricultores africanos é fundamental para satisfazer as necessidades de agricultura e de segurança alimentar de África,” disse Adesina. “A menos que mostremos uma decisão colectiva forte e transformemos ambição em realidade, seremos confrontados com enormes carências de produtos alimentares no continente.”
O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, resumiu a conferência virtual, dizendo que a tarefa não é nada menos do que transformar a agricultura de África.
“Precisamos de fortalecer as parcerias para acedermos às inovações eficazes para produzir mais produtos alimentares e a preços acessíveis,” disse. “O agronegócio pode ser um caminho para a prosperidade das famílias africanas.”