EQUIPA DA ADF
As tensões entre a Argélia e o Mali estão a aumentar relativamente à forma de resolver a actual rebelião Tuaregue do Mali, que dura há mais de uma década.
A Argélia apoia uma solução negociada que dê resposta às preocupações dos rebeldes e se baseie num acordo de 2015. A junta governativa do Mali é favorável a uma resposta militar.
“A Argélia teme que esta escalada de tensões possa conduzir a um movimento separatista Tuaregue bem-sucedido, que inspiraria grupos étnicos marginalizados na Argélia, no Níger e na Líbia a procurar a sua autonomia,” o analista Assala Khettache escreveu recentemente para o Royal United Services Institute. “Uma fuga dos Tuaregues no Mali pode desestabilizar uma região já frágil do Sahel, com as fronteiras meridionais da Argélia especialmente vulneráveis.”
As relações entre a Argélia e o Mali degradaram-se no último ano, numa altura que a junta do Mali acusa a Argélia de interferir nos seus assuntos internos ao reunir-se com os rebeldes. Em Dezembro de 2023, ambos os países retiraram os seus embaixadores. A Argélia tem liderado os esforços de mediação da paz entre os dirigentes malianos e os grupos Tuaregues. Esta mediação produziu os Acordos de Argel de 2015 entre o antigo governo do Mali e a Coordenação Tuaregue dos Movimentos de Azawad.
“A Argélia apoiou fortemente o acordo de paz de 2015 e tentou salvar o acordo em Dezembro de 2023 devido ao receio de que o recomeço das hostilidades no Mali mobilizasse a população Tuaregue na Argélia e provocasse a fuga de refugiados para a Argélia,” o analista Liam Karr escreveu recentemente para o Instituto para o Estudo da Guerra.
A junta no poder no Mali acusa a Argélia de albergar rebeldes. Em Janeiro de 2024, a junta pôs termo à participação do Mali nos Acordos de Argel e intensificou os ataques contra os rebeldes. Em Julho, as forças armadas do Mali, apoiadas por mercenários russos do Africa Corps (antigo Grupo Wagner), foram emboscadas por rebeldes Tuaregues quando se dirigiam para atacar o lado maliano de Tinzaouaten, uma comunidade que faz fronteira com a Argélia.
A emboscada do Quadro Estratégico Permanente para a Paz, a Segurança e o Desenvolvimento matou dezenas de soldados malianos e mercenários russos. Embora o número exacto de mortos continue a ser contestado, os observadores consideram que o combate foi o mais mortífero para o grupo mercenário russo desde a sua chegada ao Mali em 2021.
“A emboscada trouxe as preocupações de segurança da Argélia para o primeiro plano, expondo a fragilidade das suas fronteiras e aprofundando o seu dilema diplomático sobre a forma de combater as forças apoiadas pela Rússia no Sahel sem pôr em risco a sua relação crucial com Moscovo,” escreveu Khettache.
Um mês depois, o Mali e os seus aliados russos lançaram um ataque com drones contra a comunidade, que matou 20 civis e provocou uma guerra de palavras entre a Argélia e o Mali nas Nações Unidas.
Tinzaouaten tem sido uma base tanto para os rebeldes Tuaregues como para o Jama’at Nasr al-Islam wal-Muslimin, o ramo saheliano da al-Qaeda, desde que os dois grupos expulsaram os militares malianos em 2012.
A emboscada de Tinzaouaten e o ataque de drones que se lhe seguiu tornaram-se mais um ponto de inflamação na relação entre as duas nações, apesar de ambas terem acolhido a influência russa — a Argélia directamente através de laços de longa data com Moscovo; o Mali através do seu convite de 2021 ao Africa Corps.
Apesar dos seus laços comuns com a Rússia, a oposição da Argélia ao Africa Corps significa que é pouco provável que ajude o Mali a pôr fim à sua rebelião pela força, observou Karr. Isso permite que os rebeldes se retirem através da fronteira porosa com a Argélia para sobreviverem e manobrarem as forças malianas, acrescentou.
A Argélia apelou à ONU para que ponha fim à presença de mercenários no Mali. No entanto, é pouco provável que a Rússia os retire, porque se tornaram um instrumento fundamental para exercer influência no Sahel, segundo Karr.
“O Mali é uma peça vital nas ambições estratégicas do Kremlin em África,” acrescentou. “O Mali é também um parceiro crucial para o projecto político mais vasto da Rússia no Sahel.”
Segundo os observadores, o apoio continuado de Moscovo ao Africa Corps no Mali pode prejudicar os seus laços com a Argélia e obrigar este país a repensar a sua preferência pela resolução de conflitos pela via diplomática.
“À medida que as tensões aumentam, a Argélia enfrenta a delicada tarefa de equilibrar a sua parceria crítica com a Rússia, ao mesmo tempo que pondera se a intervenção militar no Mali é necessária para salvaguardar os seus interesses,” escreveu Khettache.