EQUIPA DA ADF
Bernardino Rafael não é inclinado a hipérboles, mas os seus mais recentes comentários sobre a guerra contra o terrorismo no norte de Moçambique foram optimistas.
O comandante-geral das forças policiais moçambicanas estava a discursar perante as tropas ruandesas no seu posto próximo da cidade de Chai quando ele louvou os seus esforços coordenados com as forças do Estado.
“Estamos a atingir o inimigo de forma agressiva,” disse no dia 13 de Maio. “Não estamos a dizer que chegamos ao fim, mas estamos quase lá.”
De facto, depois de sofrer durante uma insurgência sangrenta dos extremistas durante anos, a província moçambicana de Cabo Delgado está a registar sinais de progresso.
Os militantes, agora conhecidos como Estado Islâmico-Moçambique, foram para os esconderijos e estão a ter dificuldades com a falta de recursos, principalmente comida.
“Actualmente, os terroristas, cada vez mais enfraquecidos, estão a levar a cabo ataques esporádicos em pequenos grupos, por vezes, com o objectivo de roubar comida,” disse o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, num discurso público do dia 27 de Maio durante uma sessão do partido político.
Nyusi disse que o “progresso contra o terrorismo” está a permitir um regresso gradual dos residentes para partes da província e a restauração de escolas, hospitais, estradas e serviços administrativos.
Apesar dos progressos, ele chamou os insurgentes de “um grande desafio” e alertou contra uma “retórica triunfante.”
Especialista em matérias ligadas ao terrorismo, independente, que se encontra na África do Sul, Jasmine Opperman, partilhou o sentimento e observou o que está em causa.
“A tragédia de Cabo Delgado deverá continuar, com mensagens de normalizações provisórias deixando tantas pessoas vulneráveis,” escreveu no Twitter, no dia 25 de Maio.
Insurgentes afiliados ao Estado Islâmico já mataram mais de 4.000 pessoas e obrigaram 800.000 a abandonar as suas casas desde 2017.
Apesar dos sucessos militares, o director da missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM), Mpho Molomo, disse que ainda é muito cedo para antecipar o fim da insurgência.
De acordo com Molomo, ataques contra homens, mulheres e crianças continuam nas florestas onde os civis se escondem.
“Estamos a estabilizar a situação, mas não podemos afirmar que vencemos o terrorismo por completo,” disse durante uma palestra em Maio, na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique.
Operações conjuntas recuperaram várias partes da província anteriormente ocupadas por rebeldes, incluindo Mocímboa da Praia, que os extremistas ocuparam de Agosto de 2020 até Julho de 2021.
“Depois de uma vaga de actividades violentas nas anteriores duas semanas (desde finais de Abril até inícios de Maio), os insurgentes mais uma vez retiraram-se para as suas bases nas florestas, aparecendo ocasionalmente à procura de comida,” o observatório do conflito, Cabo Ligado, afirmou no relatório de situação, no dia 17 de Maio.
“Parece que os insurgentes estão a libertar os reféns para reduzir o número de bocas por alimentar, embora alguns reféns ainda sirvam para algum propósito ao garantirem a segurança dos produtos alimentares.”
De acordo com relatórios, em Maio, os militantes levaram a cabo várias rusgas para obtenção de comida em Cabo Delgado. Forças de segurança prenderam 12 combatentes no dia 13 de Maio depois de terem atravessado para a Tanzânia à procuram de comida. Dezenas renderam-se.
“Uma fonte local comunica que os insurgentes actualmente não parecem estar interessados em matar e apenas lançam ataques para levar comida para poderem sobreviver,” comunicou o Cabo Ligado. “A insurgência sempre pilhou suprimentos da população. Isso era sustentável quando controlava territórios significativos e tinha cadeias de fornecimento para as zonas urbanas em Cabo Delgado e do outro lado da fronteira com a Tanzânia.
“Com as operações severamente interrompidas, particularmente pelas forças ruandesas, e um regresso mínimo de pessoas deslocadas, as cadeias de fornecimento estão quebradas e as aldeias ainda vazias dispõem de muito pouco para pilhar.”
Existem sinais de que a vida está a voltar ao normal para os civis em partes de Cabo Delgado: veículos militares blindados fazem a patrulha das estradas reabertas; o comércio, a pesca e outras actividades comerciais estão a retomar. Electricidade, prestação de cuidados sanitários e serviços governamentais estão gradualmente a voltar à vida.
Mas um número significativo de cidadãos continua escondido. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados estima que 6.000 pessoas foram recentemente deslocadas este ano depois do reaparecimento do conflito em Cabo Delgado e na sua província vizinha, Niassa.
A Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome Financiada pelos Estados Unidos alerta sobre a persistente crise alimentar “devido ao conflito onde os insurgentes continuam a levar a cabo ataques de pequena monta e mortes, primariamente nos distritos de Mueda, Nangade e Meluco, com pequenas células de insurgentes a procurar pilhar comida e suprimentos de locais não guarnecidos.”
Rafael disse que o exército tinha executado 70% das suas operações planificadas. Ele espera que os restantes 30%, algumas nas mais profundas florestas da província, sejam difíceis.
“A guerra é mais agressiva, mais difícil, quando está próxima de chegar ao fim,” disse. “Devemos continuar a lutar contra os terroristas, sem descanso, até ao último esconderijo.”