EQUIPA DA ADF
Um novo gasoduto, que se estende desde o sul da Nigéria em direcção ao mar Mediterrâneo, pode abrir as vastas e inexploradas reservas de gás natural de África para os mercados estrangeiros, criando uma alternativa para a dependência da Europa em energia proveniente da Rússia.
O gasoduto transariano, avaliado em 13 bilhões de dólares, que esteve na fase de planificação por mais de uma década, recebeu um interesse renovado depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, no início de Março. A invasão activou sanções globais contra a Rússia e deixou a maior parte da Europa a examinar opções alternativas para satisfazer as suas necessidades de gás natural.
Líderes da Nigéria, Níger e Argélia assinaram um acordo em Niamey, Níger, em Fevereiro, reiniciando as obras do projecto. O gasoduto irá transportar 30 bilhões de metros cúbicos de gás, ao longo de 4.000 quilómetros, desde a região de Warri, da Nigéria, para a costa argeliana. Ao longo do caminho, afirmam os defensores, irá também garantir empregos e energia a comunidades de todos os três países.
Em conjunto, os três países controlam mais de metade dos 18 trilhões de metros cúbicos de gás natural de África. Como o maior produtor de petróleo de África, a Nigéria já exporta gás natural liquefeito (LNG) para a Europa. Em 2019, os países europeus adquiriram 12 bilhões de metros cúbicos de gás nigeriano, de acordo com a Associação Empresarial Alemã-Africana.
O LNG necessita de navios para ser transportado, o que pode ser arriscado para as águas que estão infestadas por piratas do Golfo da Guiné. Um gasoduto iria evitar esse problema.
Nigéria, Níger e Argélia assinaram o seu primeiro acordo do gasoduto em 2009, mas preocupações ligadas à segurança o paralisaram.
“O reinício deste projecto envia uma mensagem clara aos investidores e aos parceiros estratégicos importantes na Europa e na África que as coisas estão a mudar em África,” NJ Ayuk, presidente-executivo da Câmara Africana de Energia disse durante a cerimónia de assinatura.
O gasoduto é apenas parte da equação de exportação de energia de África.
Ao longo da última década, aproximadamente 40% de todas as novas descobertas de gás natural do mundo inteiro ocorreram em países africanos, estando Mauritânia, Moçambique, Senegal e Tanzânia entre os líderes.
Em Fevereiro, a presidente tanzaniana, Samia Suluhu Hassan, comunicou que o conflito Rússia-Ucrânia estava a motivar interesses nas reservas de gás natural do seu país, estimadas como sendo o sexto maior depósito de África.
O predecessor de Hassan, o falecido presidente John Magufuli, ficou seis anos sem autorizar a proposta de construção de um terminal de LNG, em Lindy, que permitiria que a Tânzania explorasse 1,6 trilhões de metros cúbicos de depósitos de gás natural. Magufuli, pelo contrário, colocou o seu apoio no Gasoduto de Petróleo Crude da África Oriental, que se estenderia do Uganda à costa da Tanzânia.
Hassan disse que a Tanzânia está ansiosa por encontrar mercados para os seus recursos de gás.
“Estamos à procura de mercados onde quer que seja,” disse Hasan à Africa Report. “Quer seja em África, na Europa ou na América, estamos à procura de mercados. E felizmente estamos a trabalhar com empresas da Europa.”
Várias empresas internacionais do sector de energia, incluindo a BP e a Shell, desvincularam-se de projectos de petróleo da Rússia, depois da invasão à Ucrânia. Para elas e para outros, as reservas de energia de África podem representar uma nova oportunidade aliciante, de acordo com a Brookings Institution.
O gasoduto transariano, que foi novamente lançado, enfrenta muitos dos desafios de segurança idênticos aos de 2009. O seu extremo sul, na região de Warri, da Nigéria, situa-se numa zona que enfrentou violência intercomunitária e banditismo no passado. Transita uma área no norte da Nigéria onde o grupo extremista Boko Haram se encontra activo. O gasoduto também passa por partes do Níger e da Argélia onde os governos estão a lutar contra extremistas.
Apesar de tudo isso, os defensores do gasoduto continuam optimistas.
O gasoduto irá transformar os países envolvidos, Mahamane Sani Mahamadou, Ministro do Petróleo, Energia e Energias Renováveis do Níger, disse durante a assinatura, em Niamey.
“E nós, no Níger, estamos inteiramente comprometidos em fazer disto um sucesso,” disse.