EQUIPA DA ADF
Na última década, a África Ocidental passou de uma rota de trânsito de drogas ilegais da América do Sul para a Europa para um mercado de drogas ilegais em expansão, com um aumento preocupante de consumidores domésticos.
Esta é uma das conclusões de um estudo de três anos da Rede de Epidemiologia da África Ocidental sobre Uso de Drogas (WENDU) que examinou as tendências emergentes no consumo, prevalência e tratamento de drogas e substâncias a nível regional de 2020 a 2022. O estudo foi coordenado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
A debilidade e ineficácia das instituições de governação, os desafios socioeconómicos, a instabilidade política e a sobreposição de questões de segurança conduziram à transição gradual da região, de centro de trânsito para mercado de droga. Para além do número crescente de pessoas com perturbações relacionadas com o abuso de substâncias psicoactivas, a região enfrenta também uma proliferação de medicamentos falsificados.
Os investigadores descobriram que a pandemia da COVID-19, a falta de centros de tratamento de toxicodependentes e as lacunas na capacidade de aplicação da lei agravaram o problema multifacetado.
“O fardo mais pesado do consumo de drogas é suportado pelo grupo etário dos 10 aos 29 anos, pelo que investir mais na saúde mental dos jovens é essencial para proteger as nossas crianças e jovens contra o consumo de drogas ilícitas,” Fatou Sow Sarr, Comissária da CEDEAO para o Desenvolvimento Humano e Assuntos Sociais, disse num documento de políticas.
O relatório concluiu que a cannabis é a principal causa de tratamento de perturbações relacionadas com o consumo de substâncias e domina a lista de apreensões de droga na região.
De acordo com o relatório, 55% de todos os internamentos para tratamento da toxicodependência entre 2020 e 2022 estão relacionados com o consumo de cannabis, resina de cannabis e haxixe. Os canabinóides também representaram quase 70% de todas as apreensões de droga na região. A quantidade de cannabis apreendida aumentou de 139 toneladas em 2020 para 631 toneladas em 2021 e 892 toneladas em 2022.
“A cannabis domina as estatísticas regionais, porque cresce facilmente nas nossas condições climáticas, [tem] um modo de consumo que não é restritivo (fumar), [e é] mais acessível e menos dispendiosa do que outras drogas,” N’guessan Badou Roger, um responsável pelo tratamento, investigação e epidemiologia da Costa do Marfim, disse no documento de políticas.
Os opiáceos farmacêuticos, como o tramadol e a codeína, representaram as maiores quantidades de opiáceos apreendidos na região, o que indica que a região continua a ser um centro de desvio de produtos farmacêuticos legais para consumo ilícito.
O consumo de drogas varia consoante o país
No Senegal, a droga mais consumida em 2021 foi a cocaína, que foi responsável por mais de 60% das pessoas que procuraram tratamento. A droga mais consumida em 2022 foi a cannabis, que representou quase 44% das pessoas que procuraram tratamento.Na Costa do Marfim, quase 80% das pessoas que procuravam tratamento para a toxicodependência eram dependentes de cocaína ou crack, enquanto mais de 46% das pessoas em tratamento na Nigéria consumiam cocaína.
As porosas fronteiras terrestres, marítimas e aéreas expõem a região ao tráfico de drogas ilícitas, cujos lucros são normalmente utilizados para financiar o terrorismo, os raptos com pedido de resgate, o tráfico de armas, a violência de cultos e gangues, os golpes de Estado e a prostituição, segundo o relatório.De 2020 a 2022, as autoridades apreenderam grandes quantidades de produtos médicos de qualidade inferior, falsos, falsificados e contrafeitos.
De acordo com um relatório de Fevereiro de 2023, do Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime, até 50% dos medicamentos na África Ocidental são falsos ou de qualidade inferior. Medicamentos como o tramadol e produtos relacionados com a saúde sexual e reprodutiva chegam à região provenientes de países como a Bélgica, a China, a França e a Índia, normalmente nos portos do Benin, do Gana, da Guiné, da Nigéria e do Togo.
Recomendações
O estudo da WENDU recomenda que a CEDEAO desempenhe um papel de liderança na elaboração de uma política regional uniforme em matéria de cannabis que tenha em conta as realidades culturais, sociais e económicas da região.
O estudo apela ao reforço da investigação sobre a toxicodependência e o abuso de substâncias a nível regional, nacional e subnacional para melhor compreender a extensão e a natureza da toxicodependência e do abuso de substâncias.
Os regulamentos desactualizados sobre estupefacientes devem ser reformulados de modo a observarem as melhores práticas globais actuais e devem ser feitos mais esforços para educar o público sobre os perigos do abuso de drogas.
O relatório apela igualmente à criação de mais instalações de tratamento de drogas nas zonas rurais e afirma que os controlos transfronteiriços devem ser reforçados para atenuar o tráfico regional.