EQUIPA DA ADF
Em 2023, a África Subsariana foi a região com o maior número de ataques terroristas em todo o mundo, segundo um novo relatório.
O Inquérito sobre Conflitos Armados 2023, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), acompanhou as dimensões políticas, militares e humanitárias dos conflitos armados a nível mundial, entre Maio de 2022 e Junho de 2023. Durante esse período, o número de vítimas mortais devido à violência terrorista aumentou 48% e o número de incidentes violentos aumentou 22% em relação ao período anterior.
“A situação e o panorama dos conflitos pioraram significativamente na última década e meia,” Benjamin Petrini, investigador do IISS para os conflitos, a segurança e o desenvolvimento, disse durante o lançamento do inquérito. “Desde 2010, o número de conflitos globais mais do que duplicou.”
De acordo com Petrini, África tem actualmente o maior número de conflitos a nível mundial e a maior percentagem de países frágeis e afectados por conflitos.
Registos regionais
O inquérito descreve em pormenor o fim da guerra civil na região de Tigré, na Etiópia; o início da guerra civil no Sudão; o aumento das tensões entre a República Democrática do Congo (RDC) e o Ruanda; e a continuação da violência extremista e da instabilidade política na região do Sahel.
O epicentro do conflito no Sahel é a zona da tríplice fronteira entre Burquina Faso, Mali e Níger.
“O nível de violência continua muito elevado [no Sahel],” afirmou Petrini. “A França e as operações de manutenção da paz das Nações Unidas retiraram-se e o Níger juntou-se ao Mali e ao Burquina Faso no derrube do seu governo civil. Por isso, a nível regional e internacional, o conflito alterou-se significativamente.”
Embora a violência extremista na Bacia do Lago Chade ocorra sobretudo na Nigéria, os Camarões, o Chade e o Níger também são afectados. O Ansarul Muslimina Fi Biladis-Sudan, ou Ansaru, e a Província da África Ocidental do Estado Islâmico, ou ISWAP, são os grupos mais dominantes na região. Ambos os grupos estão ligados ao Boko Haram e dedicam-se habitualmente ao banditismo, ao rapto e ao roubo de gado.
Na Somália, o inquérito concluiu que as milícias clânicas, o Exército Nacional da Somália, as forças federais e estatais, a Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS) e as forças internacionais obtiveram ganhos contra o al-Shabaab. Mas o grupo está a revelar-se difícil de erradicar.
“Uma questão crítica é como restabelecer a presença do Estado em áreas recentemente libertadas que foram controladas pelo [al-Shabaab] durante décadas,” escreveram os investigadores do IISS.
A ATMIS está a retirar as tropas da Somália por fases e espera-se que entregue todas as responsabilidades de segurança às forças somalis até ao final de Dezembro.
Após uma diminuição da violência em 2021, as actividades militantes regressaram às zonas rurais do norte de Moçambique em 2022, devido a incidentes atribuídos a organizações ligadas ao grupo do Estado Islâmico (EI). Alguns analistas receiam que a violência se estenda a outras zonas e regiões rurais.
Países como Quénia, Tanzânia e Uganda, na África Oriental, e Benin, Costa do Marfim, Gana e Togo, na África Ocidental, foram frequentemente afectados pelo extremismo transfronteiriço, incluindo os esforços de recrutamento de terroristas e o contrabando de armas e outros artigos ilícitos para obtenção de receitas.
O IISS concluiu que o conflito na Líbia permaneceu num impasse, enquanto o Egipto assistiu a uma diminuição dos combates.
Aumento de ataques terroristas
O número anual de ataques terroristas na África Subsariana duplicou desde 2016, de acordo com o relatório do IISS. Os militantes da região actuam sobretudo com base em queixas locais e envolvem-se em conflitos comunitários e étnicos.
Segundo o IISS, os laços internacionais entre os grupos locais e o EI e a al-Qaeda enfraqueceram e as ligações entre os grupos insurgentes “parecem agora limitar-se a colaborações intra-regionais.”
O inquérito concluiu que o facto de as organizações terroristas dependerem cada vez mais de financiamento local, normalmente através de extorsão, as coloca em conflito com as populações de algumas zonas, como a Somália, onde o al-Shabaab enfrenta uma reacção adversa.
Embora os grupos extremistas da África Subsariana estejam frequentemente ligados ao EI e à al-Qaeda, o IISS encontrou poucas provas de que sejam apoiados financeiramente por qualquer uma das organizações.