Líderes e Especialistas Africanos Questionam as Proibições de Viagens

EQUIPA DA ADF

Não foi coincidência quando o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, depois de embarcar num avião, expressou uma forte rejeição contra as recentes proibições de viagens relacionadas com a COVID-19.

O seu país foi o primeiro a alertar o mundo sobre a existência de uma nova estirpe chamada Ómicron, no dia 24 de Novembro. Dentro de dois dias, vários países encerraram as suas fronteiras para viajantes oriundos da África Austral.

“Saímos em rejeição total a estas proibições que foram impostas sobre a África Austral e insistimos para que elas sejam levantadas,” Ramaphosa disse aos jornalistas no dia 30 de Novembro, antes de partir para a Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Senegal.

“O que menos esperávamos era que fossemos punidos por vários países pelo facto de termos divulgado algo de forma muito transparente. Não podemos conter um vírus através de proibições não cientificas e indiscriminadas.”

O medo da variante Ómicron é compreensível, porque dados preliminares sugerem que é mais contagiosa do que a estirpe dominante Delta que motivou o ressurgimento de vagas de casos de COVID-19 pelo mundo.

Os países afirmam que as proibições são necessárias até que se saiba mais sobre a transmissibilidade e a gravidade da variante Ómicron. Um estudo feito pelo WZB Berlin Social Science Center, que analisou dados de 181 países, concluiu que para as proibições sejam eficazes, elas devem ter como alvo países específicos ou zonas em questão e serem colocadas em vigor muito cedo, nos estágios iniciais de um surto. Mesmo assim, concluiu o estudo, as proibições perdem a sua eficácia com o passar do tempo.

Embora reconheçamos a utilidade de alguns dos primeiros encerramentos das fronteiras relacionados com a pandemia, os cientistas como o epidemiólogo sul-africano, Salim Abdool Karim, observam que a chegada da COVID-19 foi simplesmente retardada por este tipo de medidas.

“O vírus propagou-se antes de sequer sabermos que ele existia,” disse à rede de televisão PBS, no dia 2 de Dezembro. “O que está em questão aqui é que mesmo que ela [proibição de viagem] tenha um impacto, mesmo que tenha algum benefício, será tão pequeno e por tão curto período de tempo que realmente não vale a pena implementar.”

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que as restrições de viagens prejudicam as economias e desencorajam o anúncio de novos vírus ou variantes. As autoridades também disseram que os países da África Austral não foram capazes de transportar amostras biológicas que pudessem ajudar os pesquisadores de fora a estudarem e lutarem contra a variante Ómicron.

A maior parte dos especialistas afirma que a mais recente ronda de encerramentos das fronteiras foi de forma tardia demais para que surtisse algum efeito que não fosse apenas ganhar tempo. Mas eles apontam para uma série de outras medidas que se comprovaram que reduzem a propagação da COVID-19:

  • Aumento da testagem nos aeroportos e nos postos de travessia fronteiriça.
  • Quarentenas supervisionadas ou institucionais para qualquer pessoa proveniente de um país de que se tenha conhecimento que possui casos de Ómicron.
  • Ordens para se usar a máscara.
  • Aumento do nível de restrições domésticas que limitam os aglomerados em lugares públicos e reduzem a capacidade dos mercados, restaurantes e lojas.
  • Melhoria dos sistemas de ventilação de lugares fechados.
  • Renovação da ênfase na lavagem das mãos e no distanciamento social.

Uma outra contramedida importante é um sistema de vigilância nacional para rastrear vírus e mutações — algo que a África Austral já tinha estabelecido antes da pandemia por causa das experiências com o HIV, o Ébola e a tuberculose.

A porta-voz da OMS, Dra. Margaret Harris, disse que é importante que os países que colocam restrições de viagens em vigor “aproveitem ao máximo aquele tempo.”

“Aumentem a capacidade dos vossos hospitais,” disse à rede de radiodifusão, NPR. “Criem o vosso controlo e rastreio. Criem a vossa vigilância. Preparem-se.”

Ramaphosa concordou.

Ele disse que os países devem ter confiança no estabelecimento de medidas de combate em vez de medo, pânico e proibições de viagens direccionadas.

“Nós avançamos como um país até a um ponto onde sabemos que quando as pessoas viajam, devem ser submetidas a um teste, assim como eu fui submetido a um teste ontem à noite e estou disposto para ser submetido a um teste de novo quando eu chegar,” disse. “Temos as ferramentas. Temos os meios para podermos lidar com isso.”

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