No Auge da Pandemia, Persistem Mitos sobre a COVID-19

EQUIPA DA ADF

Rumores, mitos e concepções erradas sobre a COVID-19 infestaram África desde os primeiros dias da pandemia. Apesar de mais de 18 anos de progresso no combate à doença, persistem mitos como parte da “infodemia” à volta da pandemia.

“Os mitos são uma forma de fazer com que a realidade faça sentido e, em tempos de crise, a falta da verdade da informação pode abrir as portas para incertezas e desorientação,” a investigadora Fabíola Ortiz dos Santos escreveu num estudo de 2021 que analisa as formas que a República Democrática do Congo utilizou o “Congo Check” para desmistificar os rumores e os mitos sobre a COVID-19.

Aqui estão os cinco mitos sobre a COVID-19 que podem impedir que os esforços no sentido de controlar a pandemia resultem em África.

MITO: Ivermectina cura a COVID-19. A ivermectina é um medicamento que mata parasitas, como os vermes que causam a cegueira do rio. A ivermectina nada faz para curar a COVID-19, que é causada por um vírus. De acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), “não existem provas sobre a sua eficácia em termos clínicos para a gestão de pacientes com COVID-19 assintomática, ligeira, moderada ou grave.” Nos testes laboratoriais, a ivermectina matou o vírus, mas em níveis 100 vezes maiores que o nível de segurança para os humanos. Outros testes também foram pequenos demais ou geridos de forma fraca para serem cientificamente válidos.

MITO: Hidroxicloroquina cura a COVID-19. Um tratamento comum e não dispendioso para a malária, a cloroquina e a hidroxicloroquina continuam na lista de tratamentos para a COVID-19 de alguns países. Um pequeno teste na França, no início da pandemia, sugeriu que o anti-parasítico pode ser útil contra a COVID-19. Mais tarde, pesquisas mais rigorosas não demonstraram nenhum destes efeitos em nenhum nível de infecção, de acordo com os escritórios regionais da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África. Contudo, a hidroxicloroquina foi incluída no grande ensaio de medicamentos de África, ANTICOV, cujo lançamento decorreu em Novembro de 2020, para testar dezenas de medicamentos comuns e não dispendiosos contra a COVID-19.

MITO: As máscaras não previnem a infecção. A COVID-19 propaga-se através de gotículas microscópicas que as pessoas expelem quando tossem, espirram, respiram fundo ou mesmo quando falam. Um estudo feito pela pesquisadora Zohra Aloui-Zarrouk, do Instituto Pasteur de Túnis, Tunísia, confirmou que as coberturas faciais usadas de forma adequada (cobrindo o nariz e a boca) encaixam estas gotículas antes de elas poderem infectar uma outra pessoa. Embora as máscaras cirúrgicas ofereçam o mais alto nível de protecção, as máscaras de pano feitas em casa podem ser quase que igualmente eficazes para prevenir a infecção. Os especialistas em matérias de saúde pública promovem o uso das máscaras, porque as pessoas podem transmitir a COVID-19 mesmo que não apresentem sintomas. A fadiga da pandemia e a desinformação fizeram com que pessoas em toda a África parassem de usar as máscaras, numa altura em que a variante Delta assolava o continente. Em resposta, o Africa CDC e a empresa pan-africana de telecomunicações, MTN, lançaram recentemente a campanha “One More Push” para reforçar o uso das máscaras.

MITO: Deixar que o vírus se propague cria imunidade colectiva. A imunidade colectiva descreve quantas pessoas numa determinada comunidade devem estar expostas a uma doença para parar a sua transmissão. Na maior parte dos casos, isso significa 70% a 90% da população. No caso da COVID-19, que tem uma taxa de letalidade de 2,5% em África, alcançar a imunidade colectiva natural, permitindo que o vírus se propague descontroladamente, mataria milhares de pessoas. Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS, chamou a abordagem de cientifica e eticamente problemática. “Nunca na história da saúde pública, a imunidade colectiva foi utilizada como uma estratégia para responder a um surto, quanto menos uma pandemia,” disse Tedros.

MITO: O vírus da COVID-19 não pode sobreviver em climas quentes. O primeiro surto da COVID-19 aconteceu durante o Inverno no Hemisfério Norte. Esse facto, combinado com a lenta propagação do vírus em África, no começo, convenceu a muitos de que o vírus era vulnerável a temperaturas altas. As temperaturas mais baixas fazem com que as pessoas se aglomerem em locais fechados, facilitando a propagação de um vírus respiratório. As temperaturas mais altas, por outro lado, fazem com que as pessoas fiquem fora, onde o ar fresco reduz a sua exposição. Mas, em última instância, a temperatura do ar não tem efeito sobre o vírus, de acordo com a OMS. Qual é a temperatura que mata o vírus? Os pesquisadores descobriram a resposta: 65 graus centígrados por pelo menos três minutos.

Especialistas em matérias de saúde pública continuam a desmistificar estes e outros mitos enquanto procuram acabar com a propagação da COVID-19. Diferenciar a verdade da ficção pode salvar vidas, afirmam eles.

“Em crises de saúde pública, as concepções erradas podem ter efeitos de vida ou morte e fazer com que as sociedades e os indivíduos estejam vulneráveis à informação falsa ou enganosa,” escreveu Ortiz dos Santos.

Comentários estão fechados.