Pandemia Pode Transformar os Serviços de Saúde de África

EQUIPA DA ADF

A COVID-19 pôs à prova os sistemas de saúde de toda a África, e as respostas a outras doenças enfrentaram desvio de recursos. Mas os especialistas afirmam que é importante aprender da pandemia de modo a fortalecer os sistemas de saúde para o futuro.

“A pandemia do coronavírus provou, mais uma vez, a importância de se investir nos sistemas de saúde, melhorando o acesso equitativo aos cuidados e a prontidão de modo a prevenir e controlar os surtos,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, disse durante uma reunião regional virtual, em Agosto de 2020. “A recuperação desta pandemia estará incompleta sem fortes medidas para reforçar os sistemas de saúde. Devemos tomar esta oportunidade e dar o salto para um futuro melhor.”

Apesar de trágicas perdas e outras dificuldades, a pandemia ofereceu oportunidades únicas para os sistemas de prestação de cuidados de saúde em África. Não existem dois países que sejam semelhantes, mas, em termos gerais, existe resiliência, busca de recursos e liderança no continente.

Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), ganhou elogios pela sua liderança, em tom de solidariedade em casa, enquanto advoga de forma intensa a favor de África a nível mundial.

Nkengasong recentemente classificou-se em quarto lugar na lista dos “50 melhores líderes do mundo” pela revista Fortune, que escreveu: “Ele ajudou a coordenar a entrada dos 54 países de África numa aliança que — graças a medidas que incluíram encerrar antecipadamente as fronteiras dos países e instituir horários de recolha obrigatória bem como ordenar o uso da máscara — restringiu a crise da COVID.”

Embora Nkengasong insista que existe uma grande quantidade de trabalho ainda por se fazer para vencer o vírus, o Africa CDC anunciou uma série de iniciativas para reforçar a sensibilização e a educação sobre as medidas de saúde pública, a produção de vacinas, a participação em ensaios de vacinas, entre outras medidas sociais.

A Força-Tarefa Africana para o Coronavírus tem-se reunido semanalmente, desde Fevereiro de 2020, com sete grupos de trabalho focalizados na melhoria de capacidades, tais como diagnósticos laboratoriais, subtipos virais, gestão de casos, vigilância, comunicação de risco, prevenção e controlo de infecções, gestão de cadeias de fornecimento e padrões científicos.

“África está a tomar esta oportunidade para edificar a prontidão e as infra-estruturas de resposta a todos os níveis — continental, regional, nacional e local,” escreveu Nkengasong para a revista Nature.

Aceder aos cuidados de saúde é um grande desafio para todos os africanos, especificamente para os 60% que vivem nas zonas rurais. Não existem centros de saúde suficientes e aqueles que existem têm falta de equipamento, pessoal e suprimentos básicos.

Uma das maiores esperanças para o futuro da prestação de cuidados sanitários, contudo, está a enraizar-se em África, assim como no mundo.

O capital de risco tem sido investido em empresas africanas de tecnologia da área de saúde. Apesar da pandemia, os investidores angariaram cerca de 97 milhões de dólares na primeira metade de 2020, de acordo com a empresa de investimentos sediada nos EUA, Partech. Estava a caminho de exceder os 189 milhões de dólares angariados em 2019 e muito mais acima dos 20 milhões de dólares investidos em 2018.

De acordo com um estudo da OMS para África, 12,8% das tecnologias desenvolvidas em todo o mundo em resposta à pandemia são provenientes de África. A telemedicina, a entrega por meio de drones e a electrificação dos centros de saúde das zonas rurais e remotas à base de energia solar são apenas alguns dos potencias esforços de transformação em curso.

A directora da OMS para África enfatizou como a pandemia deixou bem claro que melhores sistemas de prestação de cuidados de saúde são necessários para confrontar esta pandemia e a próxima, bem como as doenças mais comuns como a malária, o HIV, o sarampo e a malnutrição.

Para fazer isso, disse Moeti, África deve continuar a trabalhar para melhorar as cadeias de fornecimento, investir em agentes comunitários da saúde e aumentar os níveis de todas as vacinações.

“Devemos reforçar os nossos sistemas de saúde para melhor resistirem a futuros choques,” disse. “Um sistema de saúde forte é o fundamento para uma preparação e resposta de emergência.”

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