Países Africanos Destroem Milhares de Doses de Vacina não Utilizadas

EQUIPA DA ADF

Enquanto os países africanos implementam as vacinas contra a COVID-19, as equipas de saúde pública não estão a utilizá-las com a rapidez que se esperava. Como resultado, vários países agora estão a enfrentar a possibilidade de destruir dezenas de milhares de vacinas não utilizadas e fora do prazo de validade.

O Malawi e o Sudão do Sul são dois países onde o pessoal de saúde diz que irá destruir as vacinas que estão fora do prazo, apesar dos apelos do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) para que se continue a utilizar as dozes.

“O meu apelo aos Estados-membros é: se nós estamos a fazer a nossa parte de mobilizar estas vacinas, vocês façam a vossa parte e utilizem as vacinas,” director do Africa CDC, John Nkengasong, disse num comunicado.

O Instituto Serum da Índia, que produz as vacinas, recentemente emitiu uma prorrogação de três meses, do prazo de validade original, de 13 de Abril, com base numa análise da continuidade da eficácia das vacinas. Nkengasong disse que o instituto recomendou que as doses podem ser viáveis até nove meses depois de expirada a data de validade.

Os Escritórios Regionais de África, da Organização Mundial de Saúde, apelaram os países para conservarem as vacinas — não destruí-las — caso estejam preocupados com a data de validade.

Até agora, o Malawi distribuiu menos de metade das 500.000 doses que recebeu da COVAX, a iniciativa global para fornecer vacinas de forma equitativa. Destas, 16.000 serão destruídas. No Sudão do Sul, aproximadamente 60.000 doses foram separadas para serem destruídas.

O ministro de Saúde da Serra Leoa, Austin Demby, disse que o seu país espera que cerca de um terço das suas 96.000 doses fiquem sem ser utilizadas antes de atingir a sua data de validade. Demby disse que as pessoas estão menos preocupadas com a COVID-19 do que com o Ébola. Elas também suspeitam o processo da vacina.

“As pessoas estão preocupadas pensando que esta é mais uma experiência pública que querem fazer com a nossa população,” disse Demby à The Associated Press.

Nkengasong disse, no seu comunicado de 29 de Abril, que a República Democrática do Congo tinha devolvido 1,3 milhões de doses para a facilidade internacional COVAX para redistribuição porque as autoridades de saúde do país não seriam capazes de distribuí-las antes de expirarem.

Muitas das doses de vacina que estão a expirar originalmente tinham sido enviadas para a África do Sul, que as transferiu para a União Africana para redistribuição depois de um estudo ter sugerido que elas eram menos eficazes contra a variante que dominava as infecções naquele país.

Uma combinação de falta de informação, desinformação e falta de confiança em relação ao governo levou a que algumas pessoas evitassem as doses da vacina. O baixo número de casos e de mortes do continente em comparação com as outras partes do mundo também convenceu muitas pessoas de que a COVID-19 não é uma doença grave.

No continente, os países apresentam diferentes níveis de sucesso em fazer com que as pessoas sejam vacinadas. O Marrocos, por exemplo, utilizou 82% do seu fornecimento de vacinas, enquanto a Etiópia utilizou apenas 6,3%, disse Nkengasong.

Complicando ainda mais a questão, a enorme vaga de infecções e de mortes pela COVID-19 da própria Índia, motivada pela variante B.1.617, obrigou o Instituto Serum a paralisar a exportação de vacinas para África, em meados de Abril.

“Encontramo-nos numa situação muito complicada com relação às vacinas,” disse Nkengasong.

Cerca de 400 milhões de doses da Johnson & Johnson estão programadas para chegar em África, mas não antes do terceiro trimestre do corrente ano, disse.

O director do Africa CDC está preocupado que o continente possa vir a confrontar-se com uma vaga de infecções e de mortes semelhante a da Índia, caso as autoridades de saúde pública não sejam capazes de avançar com as vacinações.

“Nós, como um continente, devemos estar muito e muito preparados,” disse. “O que está a acontecer na Índia pode acontecer aqui.”

Apelou aos africanos para continuarem a seguir as medidas preventivas, como o uso de máscaras, a lavagem das mãos e o distanciamento físico, tanto quanto possível.

Entretanto, o Director da Rede de Equidade em Saúde no Malawi, George Job, disse ao Global Citizen que está desiludido com o facto de que o país não esteja a conseguir implementar o seu plano de vacinações e irá desperdiçar as vacinas que ele próprio precisa de forma tão desesperada.

“No país, especialmente nas zonas rurais, as pessoas estão a apegar-se à informação negativa sobre a vacina,” disse. “Devemos recordar que já houve desinformação sobre a vacina e que agora estamos a experimentar o perigo de tais mensagens.”

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