Falta de Informação e Medo Impulsionam a Relutância em Relação à Vacina

EQUIPA DA ADF

Jean-Baptists Yaté Elélé sabe o quanto a desinformação pode ser perigosa.

O director de logísticas do centro de vacinação de Abidjan, na Costa do Marfim, observou, em Abril de 2020, quando uma publicação do Facebook sugeriu que o centro de testagem da COVID-19 mais próximo fazia parte de uma conspiração do governo para matar os residentes locais.

Depois, ele observou horrorizado enquanto os residentes destruíam o edifício.

“Existe tanta notícia falsa,” disse Yaté à France24. “As pessoas informam-se na internet. … A desinformação fez com que as pessoas ficassem revoltadas.”

Obviamente que as afirmações das redes sociais eram falsas, mas a falta de informação sobre a COVID-19 espalhou-se em paralelo com o vírus pelo continente.

Agora, a África está a passar por uma onda de excitação da vacina, alimentada por receios sobre a segurança, a falta de confiança do governo e a desinformação — parte disso tem origem nas próprias autoridades governamentais.

No dia 10 de Março, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) publicou uma pesquisa realizada entre Agosto e Dezembro de 2020 para aferir a opinião pública quanto às vacinas contra a COVID-19. Os resultados destacam os altos e os baixos da montanha-russa da informação sobre a saúde pública de África.

“Inquirimos mais de 15.000 pessoas de 15 países,” dois dos autores do estudo escreveram para a rede online The Conversation. “Destes, 42% afirmaram que estiveram expostos a muita desinformação, com homens (45%) tendo visto mais desinformação do que as mulheres (38%). Aqueles que estiveram mais expostos às redes sociais foram os que estiveram mais propensos a serem relutantes quanto a receber a vacina contra a COVID-19, se esta lhes fosse oferecida.

Aproximadamente 50% dos inquiridos acreditava que a COVID-19 foi planificada por um actor estrangeiro. Destes, 71% indicou a China.

A maior parte das pessoas afirmou que estaria disposta a receber a vacina.

“Apesar da exposição à falta de informação e à desinformação, o estudo revelou que quatro entre cinco inquiridos (79%) iriam receber uma vacina contra a COVID-19 aprovada,” escreveram os autores. “Este número varia de uma percentagem alta de 94% de disposição, na Etiópia, para uma percentagem baixa de 59%, na República Democrática do Congo.”

As vacinas começaram a chegar ao continente em Fevereiro de 2021, contudo, o entusiasmo foi fraco em alguns lugares.

Yaté viu em primeira mão como a má informação prejudicou a implementação da vacina na Costa do Marfim.

O seu centro de vacinação, em Abidjan, no bairro de Yopougon, tinha sido preparado para administrar 200 a 300 doses por dia. Mas as filas de cadeiras para os pacientes, muitas vezes, ficam vazias. Certo dia, em Março, pouco depois de a campanha de vacinação ter começado, apenas 14 doses foram administradas.

Todo o costa-marfinense tem uma opinião. Alguns, como Anderson Dago, um funcionário de 25 anos de idade, até sabem onde receberam a sua informação.

“Eu li nas redes sociais que as pessoas que são vacinadas são controladas através da rede 5G,” disse à France24.

Ele não é a única pessoa, em Yopougon, que aceitou esta falsa informação sobre a vacina e sobre a doença.

Camara Djaka Sissoko gere uma pequena loja de venda de roupas. Ela não tem a certeza se a COVID-19 existe.

“Os brancos não podem nem sequer aguentar um pouco com a malária,” disse ela à France24. “Nós somos mais fortes. Somos capazes de resistir à COVID-19.”

A Costa do Marfim recebeu 504.000 doses da vacina, através da COVAX, a iniciativa global para a distribuição equitativa das vacinas, coordenada pela Organização Mundial de Saúde e outros parceiros. As doses chegaram em finais de Fevereiro e irão expirar em Setembro.

Até ao dia 11 de Abril, pouco mais da metade das vacinas — 252.317 — tinham sido utilizadas. A embaixada da Índia também forneceu 50.000 vacinas à Costa do Marfim. Elas foram guardadas num frigorífico e expiram em Outubro.

O Malawi enfrenta uma situação semelhante em relação à vacina. O sociólogo Innocent Komwa pensa que o problema é a apreensão e que pode ter sido diminuído pela campanha de combate à desinformação.

“Temos muitos adultos que estão paralisados na fase contemplativa, que podiam fazer um pequeno esforço para se decidirem,” disse à Agence France-Press. “Infelizmente, o governo e as autoridades sanitárias ainda não fizeram muito para combater as notícias falsas e os boatos.”

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