Arte Contra uma Doença: Murais Ruandeses Chamam Atenção

EQUIPA DA ADF

Uma multidão ajunta-se para ver um salpico de cores reluzentes, o brilho de um pincel, uma imagem que vai surgindo gradualmente. O artista concede um sopro de vida à lateral de um edifício, transformando aquilo que era anteriormente uma fachada opaca.

Em Ruanda, as artes públicas têm mais significado nos últimos dias. Os observadores podem sair com uma mensagem importante — como lutar contra a pandemia da COVID-19.

De Junho a Agosto, 14 artistas criaram sete instalações de rua na cidade capital de Kigali para ajudar na sensibilização sobre a COVID-19.

“Está na rua, é para a comunidade” disse o artista Gilbert Iradukunda à ADF. “Alguém que vai ao mercado todos os dias, ao passar por aqui, sempre vê aquela mensagem sobre estar adequadamente trajado de máscara, lavar as mãos, manter o distanciamento, pagar as contas com recurso à conta móvel.

“É uma boa forma de difundir a mensagem para qualquer pessoa que não tenha um televisor, um smartphone ou um rádio.”

O projecto foi concebido e coordenado pela organização de artes públicas de Ruanda, denominada Kurema, Kureba, Kwiga, que significa “Criar, Ver, Aprender.” O trabalho teve o patrocínio do Centro Biométrico de Ruanda, da Embaixada da Alemanha em Ruanda e do Instituto Goethe, com apoio material da Ameki Color Paint.

Judith Kaine, fundadora e directora do Kurema, liderou o projecto que deu autonomia aos artistas quando as suas propostas foram aceites. Kurema tem estado a criar e a facilitar as artes públicas em Ruanda desde 2013, muitas delas em matérias ligadas à saúde, à justiça social, ao estatuto da mulher e à protecção ambiental.

“O presente projecto é uma forma de os artistas contribuírem na luta contra a COVID-19, compartilharem a sua criatividade em relação à causa,” disse Kaine à ADF. “As obras de arte são um forte instrumento para alcançar pessoas que não sejam alfabetizadas, que não sejam alcançadas pelas mensagens que são transmitidas noutras modalidades.”

O Ruanda tem sido elogiado no mundo inteiro pela sua resposta eficiente à pandemia. O país de cerca de 13 milhões de pessoas registou 4.602 casos de COVID-19 e 22 mortes, de acordo com as estatísticas feitas a 14 de Setembro pelo Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.

“É uma questão preocupante para a comunidade,” disse Iradukunda. “Já afectou a muitos, muitas pessoas perderam os seus empregos ou as suas actividades comerciais encerraram. A vida mudou por completo.

“Mas à medida que cumprimos com as orientações do governo, estamos lentamente a travar a propagação do vírus. Por causa disso, o governo está a abrir algumas empresas, algumas actividades para que a vida possa voltar ao normal.”

Para Kaine, a ideia de voltar ao normal inclui um cenário artístico próspero.

Os turistas sempre foram os maiores compradores de obras artísticas em Ruanda, mas a pandemia sufocou a fonte de rendimento nos últimos seis meses.

“Durante muitos meses, as galerias estiveram encerradas, as obras de arte não eram vendidas,” disse ela. “Por isso, este projecto foi também uma forma de apoiar os artistas.

“Espero que o mesmo possibilite o surgimento de mais interesse e investimento na criação de obras de arte públicas. Também espero que inspire mais pessoas a prestar atenção à arte e a apreciarem-na e, como resultado disso, que cresça a demanda por todas as formas de artes visuais em todo o Ruanda.”

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